terça-feira, 6 de novembro de 2012

Texto Descritivo da Máquina do Mundo

Após o episódio da Ilha dos Amores, Tétis guia Vasco da Gama por um monte, e quando chegam ao cume viram um campo sem vegetação com jóias espalhadas pelo chão, que mostravam que estavam pisando em solo divino. No meio do lugar, viam um globo flutuando, que era claríssimo e no seu centro a luz penetrava e ficava evidente seu centro e sua superfície.
Não é possível identificar o material de que é feito, mas se vê que é composto de partes feitas por Deus, e um centro que poderia ser visto por qualquer um, em qualquer ângulo, que nunca se movimenta, e tem em toda sua volta uma mesma imagem, que começa e acaba na arte divina. Esse centro seria a Terra, o centro de todo o universo e que regia todos os demais planetas.
Gama fica um tempo observando o Globo, espantado com tanta beleza. Então Tétis diz: veja a Máquina do Mundo, maravilhosa, que foi fabricada por Deus, não tem começo nem fim. É cercado por uma órbita, cuja superfície é Deus, mas ninguém entende o que é Deus, porque a sabedoria humana não se estende a tanto.
Esta primeira órbita cerca as outras menores e está irradiando uma luz tão clara que cega a vista e as mentes mal intencionadas. É chamado de paraíso cristão, no qual ficam as almas puras, que atingiram o bem que só Deus entende e que não há igual no mundo dos humanos. (O paraíso)
Debaixo do círculo que as puras almas divinas aproveitam, e que não anda, corre outro círculo tão rápido que não se enxerga o movimento. Com este rápido e grande movimento, vão todos os que estão no centro, e o Sol anda fazendo dia e noite. (Cristalino – órbita que determina dos dias e as noites)
 Debaixo desta órbita, outra lenta, tão lenta que enquanto a luz dá 200 voltas, essa órbita dá uma só. (Firmamento – Bíblia, que não se altera, estará sempre a mesma)
Veja este outro de baixo, que pintado com corpos radiantes, anda em um curso ordenado, e nos seus eixos correm cintilantes, como o zodíaco que traz dois animais figurados, limitados aos aposentos de Febo. As estrelas do céu, por outras partes, fazem a Ursa Maior e a Ursa Menos, Andrômeda e outras tantas constelações.
Debaixo do firmamento fica o céu de Saturno, deus antigo, depois de Júpiter, Marte, Vênus, Mercúrio e Diana, a Lua.
Em todas estas órbitas diferentes será visto, o movimento rápido ou lento, ora estão fugindo da Terra ora estão perto, mas sempre tem a Terra como centro.
Já a Terra se encontra imóvel o tempo todo e revestida por uma camada de ar, e logo depois por uma órbita de fogo.
Essas concepções fazem parte do sistema astronômico de Ptolomeu, que era o aceito pela Igreja na época.

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