terça-feira, 27 de agosto de 2013

A questão agrária na Roma Antiga
O processo de expansão territorial romano foi agente determinante para que este reino se enriquecesse e se transformasse em um dos mais poderosos impérios de toda a Antiguidade. Contudo, sem antes contar com uma política de distribuição das terras conquistadas, percebemos que a riqueza gerada por essas propriedades ocasionou fortes tensões políticas no interior da República Romana.
Com o passar do tempo, os grandes proprietários de terra – na maioria, patrícios ligados ao Senado – passaram a ameaçar a subsistência dos pequenos proprietários. Contudo, algumas transformações na organização política das assembleias foram de suma importância para que essa situação se modificasse. Por volta do século II a.C., uma nova lei instituiu a adoção do voto secreto para a escolha dos magistrados.
Essa transformação permitiu que os irmãos Tibério e Caio Graco fossem eleitos como tribunos da plebe e elaborassem leis que promoveriam uma grande reforma agrária nos territórios romanos. Em 133 a.C., Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe e conseguiu a aprovação de uma lei que delimitava a extensão das terras da nobreza e permitia a distribuição de terras públicas aos menos favorecidos.
Contudo, apesar de promover uma transformação benéfica a uma parcela significativa da população romana, este não teve o apoio popular necessário para consolidar seu projeto. Acusado de tirania, por ter deposto um tribuno e conseguido a sua reeleição, Tibério foi, no ano seguinte a sua posse, assassinado junto a mais outros 500 políticos que apoiavam o processo de redistribuição de terras.
No ano de 125 a.C., uma reforma da lei romana passou a autorizar a reeleição dos tribunos da plebe. Aproveitando dessa mudança, Caio Graco assumiu seu segundo mandato como tribuno, em 123 a.C., e decidiu retomar o projeto de reforma agrária de seu falecido irmão. Contudo, para que seus objetivos fossem alcançados, teve o cuidado de ampliar suas bases de apoio político.
Inicialmente, buscou o apoio dos cavaleiros romanos ao aprovar uma lei que permitia a participação destes na administração das províncias e na organização dos órgãos judiciários dessa região. Logo em seguida, se aproximou das populações vizinhas à cidade de Roma. Em um novo projeto de lei, Caio Graco concedeu cidadania plena aos latinos e a cidadania parcial (sem direito de voto) aos demais habitantes da Península Itálica.
Alcançada a formação de seus grupos aliados, este astuto tribuno estabeleceu reformas que realizaram um novo modelo de distribuição das terras conquistadas em Tarento e Cápua. Além disso, conseguiu a aprovação da Lei Frumentária, que reduziu o valor de revenda do trigo para pessoas mais pobres. Reeleito em 122 a.C., Caio iniciou o projeto de fundação de uma colônia em Cartago.
Sentindo-se prejudicados por tais mudanças, os patrícios buscaram o apoio dos plebeus. Para consegui-lo, a elite romana argumentou que os plebeus poderiam perder a exclusividade de seus privilégios com a extensão da cidadania às populações vizinhas. Sem demora, os plebeus não concederam um novo mandato para Caio Graco, que em resposta tentou armar um golpe de Estado.
A ação gerou uma enorme conturbação social que desestabilizou o cenário político romano. O Senado decretou estado de sítio e concedeu poderes ilimitados aos cônsules. Mediante a pressão dos grandes proprietários e dos senadores, Caio Graco se refugiou no Monte Aventino junto de seus partidários. Observando que não poderia esboçar uma reação, Caio acabou ordenando que um de seus escravos o matasse.

Apesar do projeto dos irmãos Graco terem sofrido severa oposição, outras figuras políticas tentaram retomar o seu projeto. Em 91 a.C., o tribuno Marco Lívio Druso buscou aprovar uma lei de redistribuição de terras. Mais uma vez, os grandes proprietários armaram um golpe que resultou no assassinato do tribuno. Contudo, o evento foi responsável pela deflagração da Guerra Social, que entre os anos de 90 e 89 a.C. assinalou as tensões que tomavam Roma por causa da questão agrária.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Primavera Árabe

Primavera Árabe não se trata de um evento, de algo breve ou de uma estação do ano, trata-se de um período de transformações históricas nos rumos da política mundial. Entende-se por Primavera Árabe a onda de protestos e revoluções ocorridas no Oriente Médio e norte do continente africano em que a população foi às ruas para tirar ditadores do poder, autocratas que assumiram o controle de seus países durante várias e várias décadas.
Tudo começou em dezembro de 2010 na Tunísia, com a derrubada do ditador Zine El Abidini Ben Ali. Em seguida, a onda de protestos se arrastou para outros países. No total, entre países que passaram e que ainda estão passando por suas revoluções, somam-se à Tunísia: Líbia, Egito, Argélia, Iêmen, Marrocos, Bahrein, Síria, Jordânia e Omã. Veja abaixo as principais informações a respeito de cada uma dessas revoluções.
Tunísia: Os protestos na Tunísia, os primeiros da Primavera Árabe, foram também denominados por Revolução de Jasmin. Essa revolta ocorreu em virtude do descontentamento da população com o regime ditatorial, iniciou-se no final de 2010 e encerrou-se em 14 de Janeiro de 2011 com a queda de Ben Ali, após 24 anos no poder.
O estopim que marcou o início dessa revolução foi o episódio envolvendo o jovem Mohamed Bouazizi, que vivia com sua família através da venda de frutas e que teve os seus produtos confiscados pela polícia por se recusar a pagar propina. Extremamente revoltado com essa situação, Bouazizi ateou fogo em seu próprio corpo, marcando um evento que abalou a população de todo o país e que fomentou a concretização da revolta popular.

 Manifestantes tunisianos manifestam pelo fim da ditadura em seu país ¹
Líbia: a revolta na Líbia é conhecida como Guerra Civil Líbia ou Revolução Líbia e ocorreu sob a influência das revoltas na Tunísia, tendo como objetivo acabar com a ditadura de Muammar Kadhafi. Em razão da repressão do regime ditatorial, essa foi uma das revoluções mais sangrentas da Primavera Árabe. Outro marco desse episódio foi a intervenção das forças militares da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), comandadas, principalmente, pela frente da União Europeia.
O ditador líbio foi morto após intensos combates com os rebeldes no dia 20 de Outubro de 2011.
Egito: A Revolução do Egito foi também denominada por Dias de Fúria, Revolução de Lótus e Revolução do Nilo. Ela foi marcada pela luta da população contra a longa ditadura de Hosni Mubarak. Os protestos se iniciaram em 25 de Janeiro de 2011 e se encerraram em 11 de Fevereiro do mesmo ano. Após a onda de protestos, Mubarak anunciou que não iria se candidatar novamente a novas eleições e dissolveu todas as frentes de estruturação do poder. Em Junho de 2011, após a realização das eleições, Mohammed Morsi foi eleito presidente egípcio.

Protestos pediram o fim do governo de Hosni Mubarak no Egito ²
Argélia: A onda de protestos na Argélia ainda está em curso e objetiva derrubar o atual presidente Abdelaziz Bouteflika, há 12 anos no poder. Em virtude do aumento das manifestações de insatisfação diante de seu mandato, Bouteflika organizou a realização de novas eleições no país, mas acabou vencendo em uma eleição marcada pelo elevado número de abstenções. Ainda existem protestos e, inclusive, atentados terroristas que demonstram a insatisfação dos argelinos frente ao governo.
Síria: Os protestos na Síria também estão em curso e já são classificados como Guerra Civil pela comunidade internacional. A luta é pela deposição do ditador Bashar al-Assad, cuja família encontra-se no poder há 46 anos. Há a estimativa de quase 20 mil mortos desde que o governo ditatorial decidiu reprimir os rebeldes com violência.
Há certa pressão por parte da ONU e da comunidade internacional em promover a deposição da ditadura e dar um fim à guerra civil, entretanto, as tentativas de intervenção no conflito vêm sendo frustradas pela Rússia, que tem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU e muitos interesses na manutenção do poder de Assad. Existem indícios de que o governo sírio esteja utilizando armas químicas e biológicas para combater a revolução no país.

Manifestação de cidadãos sírios em Washington, Estados Unidos. ³
Bahrein: Os protestos no Bahrein objetivam a derrubada do rei Hamad bin Isa al-Khalifa, no poder há oito anos. Os protestos também se iniciaram em 2011 sob a influência direta dos efeitos da Revolução de Jasmim. O governo responde com violência aos rebeldes, que já tentaram atacar, inclusive, o Grande Prêmio de Fórmula 1. Registros indicam centenas de mortos durante combates com a polícia.
Marrocos: A Primavera Árabe também ocorreu no Marrocos. Porém, com o diferencial de que nesse país não há a exigência, ao menos por enquanto, do fim do poder do Rei Mohammed VI, mas sim da diminuição de seus poderes e atribuições. O rei marroquino, mediante os protestos, chegou a atender partes das exigências, diminuindo parte de seu poderio e, inclusive, nomeando eleições para Primeiro-Ministro. Entretanto, os seus poderes continuam amplos e a insatisfação no país ainda é grande.
Iêmen: Os protestos e conflitos no Iêmen estiveram em torno da busca pelo fim da ditadura de Ali Abdullah Saleh, que durou 33 anos. O fim da ditatura foi anunciado em Novembro de 2011, em processo marcado para ocorrer de forma transitória e pacífica, através de eleições diretas. Apesar do anúncio de uma transição pacífica, houve conflitos e repressão por parte do governo. Foram registrados também alguns acordos realizados pelos rebeldes com a organização terrorista Al-Qaeda durante alguns momentos da revolução iemenita.
Jordânia: A Jordânia foi um dos últimos países, até o momento, a sofrer as influências da Primavera Árabe. Revoltas e protestos vêm ocorrendo desde a segunda metade de 2012, com o objetivo de derrubar o governo do Rei Abdullah II, que, com receio da intensificação da Primavera Árabe em seu país, anunciou no início de 2013 a realização de novas eleições. Entretanto, o partido mais popular do país, a Irmandade Muçulmana, decidiu pelo boicote desse processo eleitoral diante das frequentes denúncias e casos comprovados de fraudes e compras de votos.
Omã: Assim como no Marrocos, em Omã não há a exigência do fim do regime monárquico do sultão Qaboos bin Said que impera sobre o país, mas sim a luta por melhores condições de vida, reforma política e aumento de salários. Em virtude do temor do alastramento da Primavera Árabe, o sultão definiu a realização das primeiras eleições municipais em 2012.
O sultão vem controlando a situação de revolta da população do país através de benesses e favores à população. Apesar disso, vários protestos e greves gerais já foram registradas desde 2011.



domingo, 25 de agosto de 2013

Revolta de Espartacus

Nas primeiras décadas do século I a.C., várias transformações sociais e políticas questionaram a supremacia do governo republicano em Roma. Um dos mais fortes indícios dessa instabilidade aconteceu entre 73 e 71 a.C., quando Espártaco organizou uma grande revolta de escravos que lutava pelo fim da condição servil e melhores condições de vida. Pela primeira vez, um movimento ia contra a prática que praticamente sustentava toda economia romana.

Nascido na região grega da Trácia, Espártaco viveu parte de sua vida como pastor e também serviu nas fileiras do exército romano. Após abandonar a vida militar, organizou um grupo de ladrões que realizava assaltos. Preso em 73 a.C., foi vendido como escravo para um treinador de gladiadores da região da Cápua, porção sul da Península Itálica. Insatisfeito com os maus tratos e humilhações impostas por seu proprietário, organizou uma pequena revolta junto com outros companheiros presos.

Assim que teve notícia do levantes, o governo romano logo providenciou a organização de tropas que abafassem o episódio. Contudo, ao contrário do que se esperava, Espártaco e seus demais companheiros conseguiram vencer as temidas forças do exército romano. A notícia logo incitou outros escravos a se juntarem ao bando de Espártaco. Em pouco tempo, os revoltosos tinham à sua disposição a força de quase 120 mil cativos que se aliaram à causa do heroico gladiador.

O rápido crescimento dessas forças pode ser explicado pelo impacto que cada uma das revoltas tinha para o imenso número de escravos e figuras marginalizadas da sociedade romana. Cláudio Glaber, primeiro pretor a enfrentar o incidente, pensou que poderia matar de fome os escravos realizando seu rápido isolamento no monte Vesúvio. Contudo, promovendo ataques repentinos, Espártaco e seus aliados romperam o bloqueio e tomaram as armas do Exército Romano.

Com o aumento dos participantes, a revolta de escravos passou a se dividir em duas frentes principais: uma primeira que permaneceu na Cápua e outra, liderada por Espártaco, que avançou em direção ao norte da Península Itálica. Nessa nova fase do conflito, os romanos conseguiram abater uma parcela dos escravos revoltosos. Contudo, o bando de Espártaco conseguiu seguir adiante para, talvez, alcançar a terra natal de seu principal líder.

Talvez querendo aproveitar a ausência de algumas importantes autoridades militares, Espártaco resolveu retornar ao sul com seus aliados. Roma, capital do governo, já começava a se sentir visivelmente ameaçada pelos triunfos dessas verdadeiras legiões de escravos combatentes. Sem demora, o Senado nomeou o general Licínio Crasso para combater os escravos com um poderoso destacamento de dez legiões, que equivalia a um numeroso exército de sessenta mil soldados.

A essa altura, a nova empreitada de Espártaco consistia em voltar à região sul, evitando a cidade de Roma, até alcançar embarcações de piratas que os levariam até a ilha da Sicília. Ao descobrir esse plano, o general Crasso pôde melhor organizar suas tropas e vencer os escravos rebeldes. Envolvida pelas legiões romanas, a empreitada dos escravos começava finalmente a ruir. Antes que o conflito terminasse, Espártaco tentou negociar sua rendição com o general Crasso.

Tendo sua trégua definitiva negada, não restou outra opção para os participantes da revolta senão lutar até a morte. Naturalmente, os exércitos romanos conseguiram vencer sem maiores dificuldades o levante de escravos. Para coibir outras possíveis revoltas, o Exército Romano crucificou seis mil escravos sobreviventes ao longo da via Apia, estrada que interligava a cidade de origem da revolta até a capital Roma.
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Revolta dos Plebeus

Os plebeus, em sua origem, compunham uma camada de trabalhadores livres que não estavam atrelados ao poder e à proteção dos proprietários de terra. Ao longo da história romana essa classe sofreu uma forte marginalização das instituições e no interior da cultura romana. Por não estarem economicamente atrelados às grandes propriedades de terra, os plebeus dedicavam-se ao comércio, o artesanato e ao trabalho livre. 

Com o estabelecimento da República, os plebeus ainda eram uma classe desprovida de direitos políticos. Os primeiros órgãos governamentais só contavam com os membros da aristocracia romana. No entanto, a expansão das atividades econômicas em Roma, fez com que parte da classe plebéia enriquecesse com o comércio. Ao mesmo tempo, muitos plebeus não suportavam as punições e as exigências de um sistema governamental onde não possuíam nenhum tipo de representatividade. 

Desse modo, a partir do século V a.C., uma série de revoltas plebéias se instalaram na cidade de Roma. Plebeus das mais variadas condições econômicas exigiram a reforma das instituições políticas romanas. Compondo uma população bastante numerosa, os plebeus representavam uma grande ameaça aos interesses dos patrícios. Ao longo de três séculos, um conjunto de cinco principais revoltas plebéias conseguiu reorganizar o cenário político romano. 

A primeira dessas revoltas, acontecida em 494 a.C., foi dada em um contexto no qual os plebeus aproveitaram de uma ameaça de invasão estrangeira à cidade de Roma. Esvaziando as tropas militares da cidade, os plebeus se refugiaram no Monte Sagrado exigindo a criação de um cargo político exclusivamente controlado por plebeus. Em resposta, o Senado Romano constituiu a magistratura dos Tribunos da Plebe, que poderiam vetar qualquer lei que ferisse o interesse dos plebeus. 

Apesar dessa primeira conquista, a tradição oral nas leis romanas, controladas pelos patrícios, prejudicavam enormemente os plebeus. Fazendo pressão contra os patrícios, os plebeus conseguiram a formulação de uma lei escrita dentro de Roma. Essas leis, criadas em 450 a.C., ficaram conhecidas como as Leis das Doze Tábuas. Cinco anos depois, outra revolta exigiu a permissão do casamento entre plebeus e patrícios. Através da Lei da Canuléia, que liberou os casamentos, os plebeus puderam ascender socialmente e ampliar sua participação política. 

Por volta de 367 a.C., uma nova lei foi estabelecida mediante revoltas plebéias. A extensão das grandes propriedades patrícias gerava uma desleal concorrência com os plebeus que eram pequenos proprietários de terra. Não resistindo à concorrência econômica dos patrícios, muitos plebeus endividavam-se e eram transformados em escravos. Nesse contexto, a Lei Licínia Sextia promoveu o fim da escravidão por dívida e ainda garantiu a participação dos plebeus nas demais magistraturas e cargos públicos romanos. 

Na última grande revolta plebéia de 287 a.C., os plebeus garantiram a validade jurídica das leis formuladas pelos Tribunos da Plebe, de forma que tivessem validade para toda extensão dos domínios romanos. Essa revolta encerrou um processo de reformulação política de longa duração. Apesar de equilibrar politicamente os grupos sociais romanos, a distinção cultural entre um patrício e um plebeu não se transformou radicalmente.

Mapas Civilização Romana

Início das Guerras Púnicas




No final da 3ª Guerra Púnica




terça-feira, 6 de agosto de 2013

O Retrato de Dorian Gray

Enredo - Aristóteles (Resumo da obra)

O Retrato de Dorian Gray — no original em inglês: The Picture of Dorian Gray — é um romance publicado por Oscar Wilde, considerado um dos grandes escritores Irlandeses do século XIX. Foi publicado inicialmente como a história principal da Lippincott's Monthly Magazine em 20 de junho de 1890 e, mais tarde, Wilde reviu, alterou e ampliou essa edição, que foi publicada em abril 1891 por Ward, Lock e Company.
O cenário é Londres, na Inglaterra aristocrática e hedonista do século XIX. Basil Hallward é um pintor que vê em Dorian Gray — um jovem de 18 anos pertencente à alta burguesia inglesa e dono de uma beleza física inimaginável, porém inocente — a inspiração que o impulsiona na busca da perfeição fazendo com que ele pinte o quadro de uma forma tão transcendente que todos ficam espantados com a exatidão da pintura, parecendo mesmo que Basil conseguira captar a própria alma de Dorian.
Lord Henry Wotton, um aristocrata cínico, típico da época e grande amigo de Basil, conhece Dorian e o seduz para sua visão de mundo, onde o único propósito que vale a pena ser perseguido é o da beleza e do prazer:
"O senhor dispõe só de alguns anos para viver deveras, perfeitamente, plenamente. Quando a mocidade passar, a sua beleza ir-se-á com ela; então o senhor descobrirá que já não o aguardam triunfos, ou que só lhe restam as vitórias medíocres que a recordação do passado tornará mais amargas que destroçadas".
Ao ouvir estas palavras, Dorian Gray observa a obra pronta e, constata tristemente, que aquele retrato manterá aquela beleza juvenil para sempre ao passo que ele envelhecerá e, neste momento, expressa o desejo de ser eternamente jovem, nem que para isso tenha que dar sua alma!
“ Que tristeza ! Eu envelhecerei, ficarei horrível.... Mas esse quadro sempre se manterá jovem. Nunca será mais velho do que esse dia de Junho … Se fosse o contrário ! Se fosse eu que me mantivesse jovem e o retrato ficasse velho! Por isso, — por isso — Eu daria tudo ! Sim, não há nada no mundo todo que eu não daria por isso”.
Também em Fausto, de Goethe, o homem faz um pacto com o diabo, vendendo sua alma em troca de prazeres e juventude eterna e, Dorian, por sua vez daria até sua alma pela juventude eterna e, muito embora, o diabo não tenha aparecido para assinar o contrato, seu desejo foi igualmente atendido.
Lord Henry, homem extremamente inteligente, perspicaz, irônico, cativante e com grande vivência nos relacionamentos humanos — , capaz de exercer forte influência sobre as demais pessoas — sente-se desafiado pela beleza e aparente inocência do jovem Dorian, aproxima-se deste e passa a instigá-lo e a estudá-lo em suas reações e atitudes, fazendo com que Gray tome consciência de sua beleza e do valor de sua juventude, iniciando-o assim num mundo de vícios e desregramento.
Dorian segue a vida na companhia de Henry, influenciado por suas palavras, seduz, destrói vidas, torna-se egoísta, devasso e mau, muito embora, seu rosto permaneça com os traços angelicais dos seus 18 anos e, por sua vez, Henry delicia-se com a transformação no caráter do jovem.
Quando Dorian conhece Sibyl Vane, uma atriz de terceira que interpreta algumas personagens famosas como Julieta e Rosalinda, em um teatro de subúrbio, ele se apaixona por sua arte. O encantamento é tão intenso, que por noites e noites Dorian prestigia as apresentações, achando-se o homem mais apaixonado do mundo. Ele se declara para a menina Sibyl e o seu amor é correspondido e nesse momento, completamente perdido nos encantos do que crê ser o seu primeiro amor, fica noivo da jovem. Dorian é muito suscetível aos conselhos dos amigos e necessita da aprovação da sua jovem atriz. Contudo no dia em que vão presenciar a mais uma apresentação, a jovem está tão cega de amor que não vê mais sentido em sua própria arte, resultando em um péssimo desempenho, que arranca vaias da plateia e faz com que os amigos de Dorian partam do teatro decepcionados. O jovem que primeiramente se encantou com a arte e a representação de Sibyl, muito mais do que com a pessoa real, acaba se decepcionando ao extremo e a humilha de forma cruel, desrespeitosa e a abandona como se nunca houvesse sentido nada por ela.
Desesperada a jovem atriz envenena-se e morre causando a primeira mudança no caráter do moço a qual se faz sentir imediatamente no retrato. Seu sorriso não era mais o mesmo. Caracterizava-se pelo cinismo e maldade. O fim trágico dessa história de amor e outros acontecimentos levam a uma drástica mudança na personalidade, até então em formação, desse personagem.
“Você foi a Ópera?”, repediu Hallward, falando devagar, com um traço tenso de dor na voz. “Você foi a Ópera enquanto Sibyl Vane jazia morta em um aposento sórdido? Você consegue falar sobre o encantamento de outras mulheres e sobre Patti ter cantado divinamente antes que a mulher que você amava  tivesse ao menos a paz do túmulo para dormir? Ora, homem, o pequeno e pálido cadáver de Sibyl há de enfrentar os piores horrores”.

E é nesse contexto que ele percebe a alteração em seu quadro e que fantasticamente, o desejo feito em um momento de fúria realizou-se! E aí inicia -se a gradual destruição da figura no quadro, a figura representativa da alma de Dorian Gray, que a cada dia que passa se perde ainda mais no abismo da maldade. A partir daí esconde o quadro num quarto desocupado, onde ninguém além dele poderia vê-lo.
Wilde, enquanto escritor, foi um grande questionador e crítico da sociedade e do período em que viveu, e nesta obra, utiliza Lorde Henry para ser seu porta voz.
Dorian é fortemente influenciado por um livro dado a ele pelo Lord Henry, o qual descreve um personagem que se entrega a seus caprichos e fantasias em grau excessivo. São escritos hedonistas, onde a busca do prazer deve ser o objetivo primordial e único de todos os homens; onde as causas, os modos e as formas não têm nenhuma importância, perante o objetivo principal; onde os pecados são esquecidos apenas quando outros ainda maiores são cometidos.
No desenrolar do romance podemos evidenciar que Dorian não consegue determinar a sua própria identidade, está constantemente debaixo de outras influências: Basil, a pintura, Lord Henry, Sibyl Vane, o livro amarelo e, como resultado, ele não consegue formar uma identidade, integrada, madura.
Dorian vive uma vida de decadência, entregando-se aos prazeres sensuais, bons e ruins. O retrato representa o registro de transgressões e envelhecimento, enquanto sua própria aparência permanece jovem e bela. A partir de então, Dorian passou a viver tudo que lhe era ou não permitido. Passou a ter uma conduta fria e interesseira com todos à sua volta. Induziu pessoas a atos vulgares e criminosos, sempre impune. Assassinou seu amigo Basil, à facadas, quando este descobre o que está acontecendo. Leva outro amigo, um químico, ao suicídio após induzí-lo a desfazer-se do cadáver de Basil.
Dorian tenta exilar sua culpa, escondendo-se na superfície da tela pintada, mas nao consegue libertar sua mente da consciência. Assim, a pintura, influenciada pelo comportamento de Dorian, registra sua crueldade e, apenas o quadro se altera, transformando-se numa figura monstruosa, donde das mãos da imagem gotejava sangue.
Passados 25 anos, o irmão de Sibyl Vane retorna da Austrália, para onde havia partido em busca de emprego. James Vane busca o sedutor da irmã para matá-lo, porém, morre em um acidente numa caça da qual Dorian participava.
Dorian já contava com mais de 40 anos, quando pensou em curar sua alma. Pensou em levar uma vida pura, sem magoar quem quer que fosse. Ele se deu conta de que sua soberba o levou a esta vida de pecados. Amaldiçoou sua beleza e mocidade e pensou que sem elas sua vida seria pura. Porém, o que mais lhe doía era a morte, em vida, da sua alma.
Mais tarde, Dorian, que após ter resistido ao impulso de seduzir outra mulher, informou a Lord Henry que tinha decidido reformar sua vida. Naquela noite, uma vez mais ele fica chocado ao ver o retrato com um olhar de cinismo e hipocrisia moral.
Apesar de suas boas ações, o quadro não se alterava para melhor como supunha, continuava a gotejar sangue...ainda mais vivo e mais horrendo. Neste momento, Dorian percebe claramente a verdade: por vaidade, ele tentava não magoar mais ninguém, e a hipocrisia pusera-lhe no rosto a máscara da bondade. A única prova de seu mau caráter, de sua consciência, era o quadro. Então, resolveu destruí-lo.
Pega a faca usada para matar anos atrás o autor da obra, Basil, e trespassa o retrato. Ouviu-se um grito. Os criados acudiram. E, quando conseguiram adentrar ao quarto, viram na parede o magnífico retrato, e, no chão, jazia o corpo de Dorian, com a faca cravada no peito, que só pôde ser identificado pelos anéis em seus dedos.
Na parede, um angelical rapaz de 18 anos, dono de uma beleza juvenil indescritível, espreita de sua moldura com um inocente sorriso, e no chão uma figura velha, de aparência maquiavélica, enrugada, assim como o que antes se via no quadro.
Apesar de não tratar especificamente da estética, Aristóteles teria uma visão muito pontual sobre a obra. O belo aqui surge através do efeito catártico, a função da arte como educadora do caráter. Como todo romance, a obra é altamente descritiva, e procura, em muitos aspectos, copiar a realidade.
Segundo o filósofo, a tragédia tem em si o efeito catártico mais belo. Ela é capaz de atingir a todos que com ela tem contato, seja gerando o efeito da dó, ou seja o do medo.
Ao colocar a figura do jovem Dorian Gray querendo dar tudo por sua beleza, Wilde critica a sociedade hedonista e fútil na qual estava inserido, e gera uma obra de arte capaz de passar a mensagem do certo e do errado. Apesar de ser um romance, a obra tem seu aspecto trágico e dramático, levando ao que Aristóteles buscava.
O bem e o mal o tempo todo são comparados ao bonito e ao feio, ao passo que o retrato de aparência desprezível apresentava uma figura de caráter duvidoso, enquanto o rosto eternamente jovem de Dorian levava a impressão de uma pessoa pura e bondosa.

A obra deixa claro seu objetivo, o de crítica social, de uma forma a atingir as pessoas, seja pelas descrições terríveis da alteração do retrato, seja pelo caráter de Dorian cada vez mais destruído, ou pelo conjunto da obra que é surpreendentemente comovente e faz qualquer um pensar duas vezes entre a beleza e seu caráter.

Conflito - O momento em que Dorian esconde o retrato no quartinho feio, escuro e trancado.
Climax - O momento em que Basil confirma que as alterações do quadro são reais, e que Dorian não estava alucinando, ou até o momento em que Dorian toma consciência e tenta mudar.
Desfecho - O momento quando ele esfaqueia seu retrato, que acaba levando a sua própria morte.

Enredo - Aristóteles (Resumo da obra)

O livro vai contar a história de Dorian Gray com enfâse na consequência do acontecimento no atelie de Basil Hallward, na Inglaterra. Ele pintou um retrato magnífico de Dorian Gray em tamanho natural, quando finalizou-o, Dorian, um jovem com beleza grandiosa, ingênuo e causador da inspiração na arte de Basil, conheceu Lord Henry Wotton, um aristrocata britânico, cheio de teorias, muito irônico e capaz de causar grande influência nos outros. Dorian se supreende com a teoria da juventude dita por Lord Henry e fica apaixonado por seu retrato quando Basil o termina e logo diz: "Como é triste! Eu vou ficar velho horrendo e medonho. Ele jamais envelhecerá além deste dia de junho... Se pudesse ser diferente! Por isso - por isso - eu daria tudo! Sim, não há nada em todo o mundo que eu não daria! Daria a minha alma por isso" No momento, fora apenas um desabafo, mal ele sabia que seu desejo tornaria realidade. Ao desenrolar da história, ele se torna cada vez mais intímo de Lord Henry e começa a perder aos poucos sua magia encantora e sua ingenuidade. Ele se apaixona por Sibyl Vane, uma jovem de 17 anos que trabalha como atriz em uma casa de segunda linha de um judeu. "... Por que eu não deveria amá-la? Harry, eu a amo. Ela é tudo na vida para mim. Noite após noite eu assito à sua apresentação. Em uma noite ela é Rosalinda, e na noite seguinte Imogênia. Eu a vi morrer na escuridão de um túmulo italiano, sugando o veneno dos lábios do amante. Eu a vi vagar pela floresta de Arden, disfarçada como um belo menino de meias longas, colete de mangas e um gorro gracioso. Ela foi louca e compareceu diante de um rei culpado, e lhe deu arruda e o fez experimentar ervas amargas. Ela foi inocente, e as mãos negras de ciúme esmagaram sua garganta como caniço. Eu a vi com todas as idades e em todos os trajes" No dia em que Basil e Lord Henry foram vê-la representar, logo depois de o Princípe Encantado, como ela o chamava, e Sibyl decidiram se casar, ela atua de uma forma horrível, fora vaiada e no final, mal tinha espectadores na plateia. Dorian quando foi aos bastidores, se enfurece e diz não que não a ama mais e que nunca mais quer encontrá-la. Quando ele chega em casa, olha para seu retrato e percebe que seu sorriso mudou, estava com ar de maldade nele e percebeu que talvez aquilo que ele disse no atêlie estava se tornando realidade. No dia seguinte, prometera se desculpar com Sibyl e continuar com o casamento, mas ele se depara com uma notícia triste dada por Lord Henry: Sibyl estava morta e mais do que isso, com certeza era um suícidio. A partir desse dia, Dorian nunca mais fora o mesmo, começou a ser frio e aderir muito mais as teorias de seu melhor amigo. Passou a cometer as maiores das atrocidades e sempre saia impune, mas a classe nobre britânica reagiu excluindo-o e ele estava com uma reputação aruinada a cada dia que passava, tinha fama de aruinar qualquer pessoa que tivesse contato com ele, era corajoso quem decidia se tornar amigo desse. Seu retrato envelhecia com o tempo e mais do que isso, mostrava sua alma, cada atrocidade que ele cometia era refletido nele, Dorian costumava olhar para ele e cassoá-lo, pois sua beleza permanecia intocada. Basil encontra com ele no dia em que iria para Paris ficar por 6 meses para perguntar a ele se todas as coisas horríveis que diziam sobre ele eram verdade e Dorian decide mostrar o seu retrato para o pintor, o qual quando o vê fica perplexo. Dorian se vê com um ódio insano do amigo e decide matá-lo no quartinho onde seu retrato permanecia desde que notará o que ele se tornara. Depois disso, faz com que um antigo amigo químico Lord Allan Campbell, por meio da chantagem, faça o corpo desaparecer, e depois de um tempo, ele comete suicídio. Dorian durante uma de suas fugidas para lugares estranhos se depara com o irmão de Sibyl Vane, James Vane, que jurara matá-lo se ele causasse algum mal à sua irmã. Dorian fica com muito medo depois disso, pois só conseguira sair impune por sua juventude intacta, já que ele tinha 40 anos com aparência de 20 anos. Ao passar do tempo, ele quer se tornar puro novamente, não deseja mais a beleza e a juventude, vê que isso o fez tornar como era, um homem cruel. Depois de descobrir que James Vane foi assassinado no dia em que praticavam caçada, ele ficou aliviado, decidiu ser bom, não se aproveitou de uma camponesa, o que ele classificou como seu primeiro ato bondoso. Mas quando foi olhar o quadro, ele descobriu que fora por pura vaidade, pois lá estava espelhado no retrato e decide acabar de uma vez com tudo aquilo e pega a mesma faca que matou o Basil e ataca o quadro. Após soltar um grito de horror e seus criados irem para a sala descobriram o que tinha acontecido. "Quando entraram, encontraram pendurado na parede um retrato esplêncido do patrão, como viram pela última vez, em toda a maravilha de sua extraordinária juventude e beleza. No chão jazia um homem morto. Em traje de gala, com uma faca no coração. Estava definhado, enrugado e com rosto repugnante. Somente depois de examirem os anéis reconheceram quem era" Do ponto de vista aritotélico, o retrato fez com que Dorian se deparasse com o efeito catarse, era ele representado no retrato, se reconhecia nele e em todas as suas feições de maldade, sangue na mão, ele sabia que o que tinha feito, ele se assustava, mas se sentia bem, por saber que aquilo tudo acontecia e refletia no quadro e não com ele. No começo, ele não via a obra e depois tentava se tornar alguém melhor, pelo ao contrário, ele zombava dele. Mas no final, o rumo disso tornou-se diferente, ele se deparou com a ideia de confessar tudo e se tornar alguém melhor, mas não fez isso, porque sabia que não tinha provas contra ele, pois ele anteriormente se desfez delas. Então, ao decidir destroir o quadro, o que signficava punir-se, se matando, seria como nas peças teatrais que Aristóteles descrevia e analisou, ele acabou como os vilões, com punição. E os leitores vão ler isso, e se estes se identificarem com Dorian deveriam sofrer o efeito catarse e ao terminar de lê-lo, procurar ser um cidadão melhor.


Contexto Histórico - Rousseau

O livro possui muitos dos aspectos que podem ser correlacionados com algumas das ideias do grande pensados e filósofo francês Rousseau, principalmente com relação ao contexto histórico, socialmente falando. O contexto em que a obra foi escrita nos remete a uma Inglaterra vitoriana que se vê impermeada pela ascensão da classe burguesa, que por sua vez acaba substituindo  a aristocracia decadente. Em meio a isso, percebemos as classes mais baixas ainda bem marginalizadas e sem nenhum acesso aos vastos avanços da época, sendo eles até em questões tecnológicas. Partindo dessas ideias, o livro se relaciona bem com Rousseau já que o Dorian, que era extremamente bondoso e puro no começo da história, fora corrompido sutil e inconscientemente pelas teorias de Lord Henry, representante da aristocracia britânica. É preciso que deixemos claros três pontos do livro que evidenciam de forma gritante as relações estabelecidas entre a obra e o filósofo. Sendo eles:
a) A ideia de que Lord Henry corrompeu os ideais de Dorian, deixando bem explícito a ideia mais famosa de Rousseau, que se refere ao "Bom Selvagem";
b) O ponto de que o protagonista era bom e puro ao início da história, que seria explicado pela teoria em que o filósofo diz que o homem é bom por natureza, e que se  ele for mal será por alguma interrupção da sociedade, que o corrompe em aspectos morais e éticos.
c) A obra de arte (quadro) descrita no livro, reflete uma sociedade inglesa que é totalmente complacente com hipocrisias e corrupções da época.

Ao desenrolar de toda a história, Dorian foi extremamente influenciado, por exemplo pela Belle Époque. O protagonista acabou sendo impermeado por muitas novas culturas e tecnologias, num momento em que havia sido implantada a paz para a Europa, bem como para a Inglaterra. Oscar Wilde, o autor da obra, foi brilhantemente inteligente quando resolveu colocar em Dorian todos os ideais que viam se modificando pela Inglaterra, evidenciando a maldade, a heresia, na busca de um prazer hedonista. Dorian mostra uma ultrapassada aristocracia inglesa, visto que ele tem dinheiro, é bonito e vive aproveitando o auge de sua vida, que para ele estava muito mais valorizado enquanto na juventude... Ao vender sua alma, na tentativa de eternizar esse auge, isto é, sua juventude, ele se encontra perfeitamente com aristocracia, que tentava desesperadamente fazer isso.
Apesar de decadente, a aristocracia ainda dominava na política e detinha o poderio de grande parte das propriedades inglesas.
A obra ainda retrata uma forte influência da cultura do final do século XIX, sobretudo nas descrições da opulência da casa de Dorian e nos livros que ele lê.

Kant - Narrador

“Um retrato pintado com a alma é um retrato não do modelo, mas do artista”. Que não nos limitemos à arte da pintura para falar de almas. Afinal, assim como um retrato, um livro escrito com a alma é um livro não para o leitor, mas para o escritor. Bastou somente um romance para que Oscar Wilde expandisse sua carreira de dramaturgo para romancista, e esse romance foi “O Retrato de Dorian Gray” (1890), que conta a historia do narcisismo, da beleza e da corrupção da alma do jovem Dorian Gray. Esta obra tornou-se um símbolo da juventude intelectual da época, além de ter despertado grande polêmica em relação ao seu conteúdo homoerótico (homossexual). Os acontecimentos se desenrolam de forma linear e em ordem cronológica, que se inicia com o encontro entre Basil, Henry e Dorian, no auge dos seus 20 anos.                                                                                                                           
O narrador em “O Retrato de Dorian Gray” é omnisciente, ou seja, um narrador que tudo sabe e tudo vê. É uma espécie de autor implícito, funciona como um encenador. Ele está fora, mas é como se soubesse de tudo, conta a história dos outros. O narrador é ausente da história narrada. Como não tem participação na história como um personagem, é também nomeado um narrador heterodiegético. (forma mais comum na literatura).
            Wilde criou, com a sua obra, uma percepção que defendia a beleza, o belo como contraposição aos horrores da sociedade industrial. Como se fosse possível enxergar todos aqueles avanços, sociais e culturais, como algo bom, algo do que devemos tirar proveito. Beber até não poder mais, transar, se apaixonar, ou seja: não odiar a sociedade, mas sim ir a fundo nesses prazeres, nesses “maus de cidade grande” ocultos, tão corruptíveis. E quem são aqueles que podem fazer isso, para Wilde? Os belos e jovens, assim como Dorian Gray. “Aqueles que encontram significados feios em coisas belas são corruptos sem serem encantadores.” Oscar Wilde transformou os horrores dos avanços da revolução industrial em algo belo, sedutor. Podemos relacionar essa filosofia do belo de Wilde com a concepção de beleza de Immanuel Kant. Kant vai dizer que a arte, a fabricação de obras de arte, é um mecanismo para se alcançar algo, como podemos observar quando Basil pinta o retrato de Dorian, com o objetivo de gerar nas pessoas uma experiência estética, outro conceito de Kant. A experiência estética é uma vivência emocional que resulta da contemplação de determinados objetos, como o retrato de Dorian, provocando uma satisfação no observador). Belo, para Kant, é aquilo que agrada universalmente, sem conceito. Significa que o belo é algo subjetivo, universal, sem conceito definido, mas aparece para cada um de nós individualmente como um conceito único.

Kant - Narrador


No prefácio do livro “O retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde faz uma breve análise sobre suas ideias pessoais referentes à beleza, ao processo das obras de arte e como elas se inserem nesse pensamento. As opiniões do autor se contradizem com as do filósofo Immanuel Kant. Para Kant, o belo é um sentimento de prazer subjetivo que o indivíduo pode ter ao analisar uma obra de arte, baseando-se em seus próprios princípios éticos (morais). Assim, não se pode classificar uma obra como bela, pois cada um tem sua opinião quanto a isso. É trabalho dos críticos analisar a obra seguindo o conceito de “bom”, ou seja, se a obra atingiu sua finalidade seguindo os devidos procedimentos, ela é considerada boa. Porém, o belo vai além dessa relação lógica entre processo e utilidade. É um sentimento universal por ser sempre o mesmo resultado entre os juízos de valor (moral e estético), ambos subjetivos, embora cada um tenha suas próprias percepções. Assim, algumas afirmações de Oscar Wilde no prefácio contradizem esse pensamento. Wilde diz que “Aqueles que encontram significados feios em coisas belas são corruptos sem serem encantadores. Isso é um defeito”. Essa frase contradiz Kant, pois se a ideia de belo é subjetiva, não se pode classificar como defeito o fato de não concordar com a noção de belo de outra pessoa. Cada um tem suas próprias percepções. Outra passagem cuja contradição se dá pelo mesmo motivo é “Não existe livro moral ou imoral. Livros são bem escritos ou mal escritos. Isso é tudo”. Aqui, considera-se apenas a relação entre procedimento e utilidade, porém não se pode analisar uma obra de arte sem levar em conta o juízo de valor, seja esse moral ou estético. Apesar de tudo, uma frase de Wilde que se assemelha com o pensamento kantiano é “A aversão do século XIX.........”, pois nela o autor considera que a ética de cada um se altera com o tempo (uma vez condicionada ao contexto histórico) e, assim, é um aspecto a ser levado em conta ao classificar uma obra de arte.
Partindo de uma narração em terceira pessoa com linguagem pouco rebuscada, o autor nos faz questionar a real veracidade desse conceito estético absoluto durante a obra. Este, através de personagens com diferentes modos de pensar, cria diálogos que se contrapõe (como, por exemplo nas conversas e reflexões entre Dorian Gray e Lord Henry, quando este aponta a arte como algo universal absoluto afirmando “A arte não influência a ação. Ela anula o desejo de agir. É soberbamente estéril” e aquele já a encara como algo subjetivo constatando “O homem é um ser que possui miríades de vidas e de sensações, uma criatura complexa e multiforme que levava dentro de si estranhas heranças de pensamento e paixão”) e com essas discussões elabora textos provocativos que remetem o leitor se impor perante o livro e cria uma dinâmica interessante que o mantém atento e interessado. O autor é o responsável por resumir as ideias entre os protagonistas da história (Dorian Gray, Lord Henry e Basil) e não apenas oferecer a sua conclusão filosófica, mas diferentes e variados pontos de vistas que se completam ou se opõe ao dos personagens o que nos remete uma avaliação mais profunda e não somente estética, como moral. Nos faz parar e rever até onde a beleza externa pode suprir a beleza interna, qual o valor da vida e se há realmente um, o medo das pessoas serem fora do padrão da época, e outros valores discutidos até hoje na sociedade.
Nessas reflexões, inserimos o filósofo iluminista Emmanuel Kant como meio de comparar suas ideias com as apontadas no texto. Este já constatava nos seus estudos a respeito do juízo estético uma ligação forte com a ética, ou seja, a opinião de um indivíduo está diretamente influenciada com os costumes da sociedade em que está inserido. E esse assunto é bastante abordado no livro com as reuniões entre os cidadãos da classe mais rica da Inglaterra (promovidos, muitas vezes, por Lord Henry), a demasiada importância que Dorian Gray possui perante o modo como os outros o enxergam, que chega sobrepor a importância que dá ao modo como ele próprio se enxerga.
Esse aspecto do personagem principal é bastante discutido ao longo do livro, pois nos diálogos do começo, Lord Henry faz várias afirmações sobre o valor da beleza estética, levando Dorian Gray a se questionar se sua beleza e juventude valem mais do que seus valores morais. Ao ver seu retrato finalizado por Basil, Dorian fica impressionado com sua própria beleza e, influenciado pelo discurso de Lord Henry, chega a dizer que daria qualquer coisa para ficar eternamente belo como seu retrato ficaria. É nesse ponto que a estética se sobrepõe à ética.
Não podemos deixar de mencionar o caráter máximo da teoria kantiana (Critica da Faculdade de Juízos), embora com influência objetiva (da ética e razão), o belo é essencialmente subjetivo, pois o ser humano é dotado de sentimentos e gostos, e dessa forma, nem mesmo o artista pode prever a reação do público perante sua obra, pois o julgamento desta depende do artista que a criou e o observador que a interpretou. Nesse quesito, a teoria de Kant se assemelha ao pensamento do narrador que declara a respeito de Dorian Gray “Foi a sua beleza que o arruinara, a sua beleza e a juventude pela qual suplicara. Sem essas duas coisas, a sua vida teria sido imaculada. A sua beleza não fora senão um disfarce”. A frase está relacionada a ideia do protagonista usar da aparência para esconder os crimes e culpas do passado (como o assassinato de Basil e suicídio de Sybil Vane).
Outro conceito chave do filósofo em questão trata do conhecimento a priori. Para este, antes de julgar algo e dar valores morais, éticos ou estéticos era necessário um conhecimento anterior a respeito daquele assunto. E para se conhecer algo, é necessário saber o seu antônimo (por exemplo, o antônimo de belo é feio), esse tópico também foi citado pelo narrador na obra analisada como nessa parte “Dorian Gray fora envenenado por um livro. Em certos momentos, considerava o mal como um simples meio de poder realizar a sua concepção do belo”, criando uma conclusão paradoxal e menos subjetiva.
Outra concepção do belo no enredo traz a ideia desse conceito como causa de prazer, sensações agradáveis e a vontade de que aquilo nunca acabe, esta forma de pensar desencadeia a história. Por conta dessa obsessão pelo exterior, Dorian Gray comete o erro de desejar ficar eternamente belo e jovem a qualquer custo.

            Fugindo um pouco dos valores de juízo estético e avaliando o moral, percebe-se que o narrador nos faz indagações através de fatos e teorias. Usando a Teoria do Imperativo Categórico (faça o bem para si, para o próximo e para a humanidade) podemos descrever “O retrato de Dorian Gray” como um abrangente universo em que estes três exemplos de pessoas são citadas. Dorian Gray, por exemplo, apenas pensa no bem para si, Basil já tem um caráter mais romântico e pensa em si e no próximo enquanto o narrador é encarregado de pensar nos personagens e na humanidade, como as pessoas ao redor serão afetadas com o decorrer da trama. É por essas críticas e questões sociais discutidas na obra de Oscar Wilde que se justifica a sua importância até os dias de hoje e seu valor cultural e moral. 

Tempo - Hegel (+ Contexto Histórico)















Tempo - Hegel

A obra “O Retrato de Dorian Gray”, está completamente entrelaçada com o TEMPO. Não apenas por conta do contexto histórico em que foi escrita, ou a época em que a história se passa, mas a forma como esse tempo influência os personagens e seus pensamentos, ou seja, tempo psicológico da história, assim como os acontecimentos dramáticos e sucessivos do “mundo” (realidade densa e exagerada, para ser passível de análise moral e assim facilmente compreendida) em que Dorian Gray e os outros personagens vivem, que caracterizam o tempo cronológico.
Relembrando:                                 
O tempo cronológico é o que contamos no relógio: meses / dias / horas / minutos / segundos. Na obra, a narrativa em geral, momentos de conversas entre personagens ou apenas a narração de uma cena, é o que podemos chamar de tempo cronológico.

O tempo psicológico é aquele vivido interiormente, dentro da nossa consciência, flashbacks. Ou seja, as memórias e quando são descritos os sentimentos dos personagens, assim como a análise deles sobre os acontecimentos. Um exemplo, é a tomada de consciência de Dorian sobre quem ele realmente era, e como queria mudar.
O tempo cronológico da obra, se relaciona diretamente com seu enredo linear, pois obedece á sequência dos fatos. Com descrição espacial e ambiental, introduzidas específicamente pelo autor, quando o meio influencia certos momentos, os quais podem ser claramente observados na narrativa. Ela vai do início ao fim, sendo mensurável, como a vida de Dorian.
Para a evolução do romance, é necessário certo tempo, além o interno (o da história), um externo, o tempo do discurso. O tempo cronológico do escrever,  necessário ao autor  para desenvolver a trama e colocá-la no papel;  e o do ler, o tempo do leitor, o que faz toda a diferença na organização. Um enredo sequênciado, assim como de quem o fez e leu. Contudo, como se trata da análise da obra, esse tempo fictício é o cronológico do romance.
O tempo psicológico decorre numa ordem de depende do desejo do narrador ou dos personagens, alterando a ordem natural dos fatos. Essa forma de tempo, interliga os acontecimentos da pseudorealidade com o enredo não-linear.
Em relação a Hegel, que acreditava que a arte valia mais que a natureza, para chegar a verdade e atingir o espírito absoluto, tudo isso, influenciado pelo MOMENTO HISTÓRICO, onde as concepções do que é a verdade são alteradas para se adequar aos padrões,  Dorian teria então que se deixar levar pela beleza do quadro, ou nunca chegaria na verdade, na tomada de consciência. E o momento em que vive, de uma sociedade egoísta e narcisista, o que segundo Hegel, influencia as pessoas, as muda e consequentemente esses sentimentos, descritos como tempo psicológico. Como aconteceu com o personagem principal, que vendeu sua alma por uma aparência jovem. 

Espaço - Adorno

A obra “O retrato de Dorian Gray”, escrita pelo autor irlandês Oscar Wilde em 1891, tem como cenário a cidade de Londres, localizada na Inglaterra vitoriana, aristocrática e hedonista do século XIX. Tal corrente filosófica denominada Hedonismo encontrava-se bem difundida pela sociedade inglesa da época, na qual existia uma constante busca egoísta por prazeres, como forma de adquirir certa felicidade momentânea.
O livro em questão pode ser visto como uma crítica a essa sociedade que almejava e prezava por aspectos superficiais como a estética e a vaidade, sendo cínica, hipócrita e manipuladora, tendo como exemplo o personagem Lord Henry Wotton, o qual influenciou Dorian Gray (protagonista), fazendo com que este se deixasse corromper por esses vícios sociais. A partir disso, é estabelecida uma metáfora em relação à decadência moral e espiritual dessa sociedade, a qual, assim como Dorian, era bela, sorridente e agradável por fora, mas podre, suja, feia e corrupta por dentro, o que é visto no retrato de Gray. Tal obra de arte representava a alma do personagem e carregada todos os vícios e pecados do mesmo.
O local físico no qual ocorrem as ações da história é denominado espaço. Com relação ao livro, pode-se dizer que há a presença de muitos espaços, nos quais ocorrem vários acontecimentos. A Inglaterra acaba por  ser definida como o espaço global, dentro do qual se encontram os subespaços, que seriam a casa de Dorian, o estúdio de Basil, as casas dos conhecidos, o teatro e os pubs. Os locais são descritos com muitos detalhes. Tal detalhamento ocorre para o entendimento da obra pelos leitores da época em que o livro foi publicado. Os ambientes acabam por gerar conflitos entre os personagens. Um exemplo disso é o fato do retrato do protagonista ter sido guardado em um quarto que estava há muito tempo sem ser usado, porém, nele, encontravam-se lembranças da infância de Dorian, sendo assim, o espaço ideal para abrigar tal obra que representava a alma do mesmo.
Como já foi dito, na sociedade em questão há o Hedonismo, no qual o ser humano coloca o prazer como bem supremo de sua vida. Tal conceito tem forte ligação com a teoria do filósofo alemão Theodor Adorno, na qual o mesmo dizia que esse prazer é concedido aos indivíduos por meio da indústria cultural, uma indústria de lazer e entretenimento que investe em produtos culturais, os quais proporcionam um prazer imediato nas massas; e que não se importa com a educação estética, ou seja, não se importa em produzir manifestações artísticas de boa qualidade aos indivíduos, está somente submetida aos interesses do capitalismo contemporâneo, preocupando-se em manter a “roda” do sistema capitalista em constante movimento. Tais mercadorias fornecidas pela indústria cultural são chamadas de “mercadorias culturais” (filmes, músicas, shows, revistas...).
Os prazeres fornecidos por esses produtos são os imediatos, isto é, aqueles que trazem certa felicidade momentânea para as pessoas, o que é buscado pelas mesmas no Hedonismo.
De acordo com a perspectiva estética de Theodor Adorno, Dorian Gray é transformado em um mero produto do Capitalismo, dadas sua beleza e mocidade notáveis e extremamente apreciadas pela nobreza. Entretanto, a beleza do rapaz era totalmente artificial, desvirtuosa, obedecia a um padrão social e era movimentada por instâncias que beneficiavam Gray economicamente.
·         Prefácio
Primeiramente, o prefácio faz parte da obra, como se fosse uma epigrama de Lorde Henry Wotton. A beleza é vista como tudo, e aqueles que percebem intenções belas nas coisas belas são considerados cultos, dignos de esperança. Já os indivíduos que enxergam fins perversos nas coisas belas são corruptos, têm defeitos e carecem de qualquer encanto. O artista, manifestando sua razão na produção de uma obra, é o grande criador de coisas belas. Ele pode expressar o que desejar, e o pensamento, a linguagem, a virtude e o vício são seus instrumentos necessários para criação da arte.
            A concepção de arte definida no prefácio e ao longo do livro “destrói” algumas das mais comuns preocupações que tinham os realistas e os românticos, contrariando as exigências pedagógicas e utilitárias ligadas à ideia de arte. Oscar Wilde apresenta uma questão mais instigante do que as inquietações do Realismo e do Romantismo: a diluição da antítese entre forma e conteúdo.
            A definição apresenta uma questão central da estética kantiana, que é a de investigar o modo como pode ocorrer a criação de coisas belas por meio de procedimentos técnicos que possuem esta finalidade.
            Na filosofia da arte, existe o perigo de adotar uma perspectiva delimitada por certas intenções ou pressupostos, e assim, ver a obra como uma ilustração ou documento filosófico. Ao se aproximar da crítica, no entanto, a filosofia toma distância dessa “emboscada” e assume um outro risco, trazido pela perspectiva crítica. Como é afirmado no prefácio, “A arte reflete o espectador, e não a vida.”
            Ao final do prefácio, Wilde afirma que tudo que é útil não deve ser admirado pelo Homem. Enquanto isso, tudo que é inútil deve ser intensamente apreciado. Toda arte é completamente inútil, pois é livre de qualquer finalidade ou objetivo. Sendo assim, deve ser admirada com veemência (intensidade, vigor).
            A seguir, análises de alguns dos trechos do prefácio da obra:
“O crítico é quem pode traduzir de outro modo ou para um novo meio sua impressão sobre coisas belas.”
            A partir dessa frase, Oscar Wilde afirma que somente com a habilidade crítica é que o ser humano torna-se capaz de decodificar a arte de uma forma diferente, fora do comum. O filósofo Theodor Adorno, grande crítico da influência e manipulação do Capitalismo sobre os seres humanos, afirmava que apenas a expressão sensível e crítica poderia tornar a realidade mais humana e, portanto, libertar a arte da opressão e submissão ao sistema capitalista. Sendo assim, é possível estabelecer uma relação entre o pensamento de Oscar Wilde e o de Theodor Adorno no que se diz respeito ao fenômeno crítico.
“A vida moral de um homem é parte do tema do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. O artista não deseja provar nada. Mesmo as coisas verdadeiras podem ser provadas.”
            Theodor Adorno acreditava que a arte e os bens culturais estavam submetidos aos interesses do capitalismo, e sendo assim, não passavam de negócios, produtos que atendiam ao mercado. Quando o autor do livro O Retrato de Dorian Gray determina que a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito, é possível relacionar esse “meio imperfeito” ao uso que o sistema capitalista faz da arte, que é, basicamente, utilizá-la de tal forma que seja perfeita para atingir as massas e proporcionar prazeres aos indivíduos.
“Vício e virtude são para o artista materiais para uma arte.”
            Se recordarmos a teoria de Adorno, o filósofo acreditava que a sociedade era influenciada intensamente pelos valores capitalistas. Estes eram difundidos por meio dos produtos culturais, as obras de arte, gerando um processo de colonização dos valores capitalistas-consumistas sobre os compradores. Sendo assim, quando Oscar afirma que o vício e a virtude são utilizados pelo artista para fazer uma obra de arte, Theodor Adorno interpretaria da seguinte forma: o vício e a virtude são proporcionados pelo Capitalismo; o artista, como qualquer indivíduo comum, é subordinado, e, por sofrer estímulo do sistema, acaba por criar o produto cultural dito anteriormente.
“Toda arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo. Aqueles que vão além da superfície assumem um risco ao fazê-lo. Aqueles que leem o símbolo assumem um risco ao fazê-lo.”
            Inserindo as ideias de Adorno, todo indivíduo que ultrapassa a superfície da arte, isto é, tenta encontrar outro significado à mesma, e que lê o símbolo que ela possui, podendo perceber o produto capitalista que ela é, corre o risco de ser punido pelo sistema capitalista.
“A única desculpa para fazer alguma coisa inútil é podermos admirá-la intensamente. Toda arte é completamente inútil.”
            Nesse trecho, Oscar Wilde afirma que a única desculpa para fazermos arte que, segundo ele, é inútil, é admirá-la intensamente. De acordo com as ideias do filósofo estudado, é possível perceber que essa admiração intensa que a arte proporciona se dá pelo fato dela servir a indústria cultural, a qual já foi citada.