O Retrato de Dorian Gray
Enredo - Aristóteles (Resumo da obra)
O Retrato de Dorian Gray —
no original em inglês: The Picture of Dorian Gray — é um romance publicado por
Oscar Wilde, considerado um dos grandes escritores Irlandeses do século XIX.
Foi publicado inicialmente como a história principal da Lippincott's Monthly
Magazine em 20 de junho de 1890 e, mais tarde, Wilde reviu, alterou e ampliou
essa edição, que foi publicada em abril 1891 por Ward, Lock e Company.
O cenário é Londres, na
Inglaterra aristocrática e hedonista do século XIX. Basil Hallward é um pintor
que vê em Dorian Gray — um jovem de 18 anos pertencente à alta burguesia
inglesa e dono de uma beleza física inimaginável, porém inocente — a inspiração
que o impulsiona na busca da perfeição fazendo com que ele pinte o quadro de
uma forma tão transcendente que todos ficam espantados com a exatidão da
pintura, parecendo mesmo que Basil conseguira captar a própria alma de Dorian.
Lord Henry Wotton, um
aristocrata cínico, típico da época e grande amigo de Basil, conhece Dorian e o
seduz para sua visão de mundo, onde o único propósito que vale a pena ser
perseguido é o da beleza e do prazer:
"O senhor dispõe só de
alguns anos para viver deveras, perfeitamente, plenamente. Quando a mocidade
passar, a sua beleza ir-se-á com ela; então o senhor descobrirá que já não o
aguardam triunfos, ou que só lhe restam as vitórias medíocres que a recordação
do passado tornará mais amargas que destroçadas".
Ao ouvir estas palavras,
Dorian Gray observa a obra pronta e, constata tristemente, que aquele retrato
manterá aquela beleza juvenil para sempre ao passo que ele envelhecerá e, neste
momento, expressa o desejo de ser eternamente jovem, nem que para isso tenha
que dar sua alma!
“ Que tristeza ! Eu
envelhecerei, ficarei horrível.... Mas esse quadro sempre se manterá jovem.
Nunca será mais velho do que esse dia de Junho … Se fosse o contrário ! Se
fosse eu que me mantivesse jovem e o retrato ficasse velho! Por isso, — por
isso — Eu daria tudo ! Sim, não há nada no mundo todo que eu não daria por
isso”.
Também em Fausto, de Goethe,
o homem faz um pacto com o diabo, vendendo sua alma em troca de prazeres e
juventude eterna e, Dorian, por sua vez daria até sua alma pela juventude
eterna e, muito embora, o diabo não tenha aparecido para assinar o contrato,
seu desejo foi igualmente atendido.
Lord Henry, homem
extremamente inteligente, perspicaz, irônico, cativante e com grande vivência
nos relacionamentos humanos — , capaz de exercer forte influência sobre as
demais pessoas — sente-se desafiado pela beleza e aparente inocência do jovem
Dorian, aproxima-se deste e passa a instigá-lo e a estudá-lo em suas reações e
atitudes, fazendo com que Gray tome consciência de sua beleza e do valor de sua
juventude, iniciando-o assim num mundo de vícios e desregramento.
Dorian segue a vida na
companhia de Henry, influenciado por suas palavras, seduz, destrói vidas,
torna-se egoísta, devasso e mau, muito embora, seu rosto permaneça com os
traços angelicais dos seus 18 anos e, por sua vez, Henry delicia-se com a transformação
no caráter do jovem.
Quando Dorian conhece Sibyl Vane, uma
atriz de terceira que interpreta algumas personagens famosas como Julieta e
Rosalinda, em um teatro de subúrbio, ele se apaixona por sua arte. O
encantamento é tão intenso, que por noites e noites Dorian prestigia as
apresentações, achando-se o homem mais apaixonado do mundo. Ele se declara para
a menina Sibyl e o seu amor é correspondido e nesse momento, completamente
perdido nos encantos do que crê ser o seu primeiro amor, fica noivo da jovem.
Dorian é muito suscetível aos conselhos dos amigos e necessita da aprovação da
sua jovem atriz. Contudo no dia em que vão presenciar a mais uma apresentação,
a jovem está tão cega de amor que não vê mais sentido em sua própria arte,
resultando em um péssimo desempenho, que arranca vaias da plateia e faz com que
os amigos de Dorian partam do teatro decepcionados. O jovem que
primeiramente se encantou com a arte e a representação de Sibyl, muito mais do
que com a pessoa real, acaba se decepcionando ao extremo e a humilha de forma
cruel, desrespeitosa e a abandona como se nunca houvesse sentido nada por ela.
Desesperada a jovem atriz
envenena-se e morre causando a primeira mudança no caráter do moço a qual se
faz sentir imediatamente no retrato. Seu sorriso não era mais o mesmo.
Caracterizava-se pelo cinismo e maldade. O fim trágico dessa história de amor e
outros acontecimentos levam a uma drástica mudança na personalidade, até então
em formação, desse personagem.
“Você foi a Ópera?”, repediu Hallward,
falando devagar, com um traço tenso de dor na voz. “Você foi a Ópera enquanto
Sibyl Vane jazia morta em um aposento sórdido? Você consegue falar sobre o
encantamento de outras mulheres e sobre Patti ter cantado divinamente antes que
a mulher que você amava tivesse ao menos a paz do túmulo para dormir?
Ora, homem, o pequeno e pálido cadáver de Sibyl há de enfrentar os piores
horrores”.
E é nesse contexto que ele
percebe a alteração em seu quadro e que fantasticamente, o desejo feito em um
momento de fúria realizou-se! E aí inicia -se a gradual destruição da figura no
quadro, a figura representativa da alma de Dorian Gray, que a cada dia que
passa se perde ainda mais no abismo da maldade. A partir daí esconde o quadro
num quarto desocupado, onde ninguém além dele poderia vê-lo.
Wilde, enquanto escritor,
foi um grande questionador e crítico da sociedade e do período em que viveu, e
nesta obra, utiliza Lorde Henry para ser seu porta voz.
Dorian é fortemente
influenciado por um livro dado a ele pelo Lord Henry, o qual descreve um
personagem que se entrega a seus caprichos e fantasias em grau excessivo. São
escritos hedonistas, onde a busca do prazer deve ser o objetivo primordial e
único de todos os homens; onde as causas, os modos e as formas não têm nenhuma
importância, perante o objetivo principal; onde os pecados são esquecidos
apenas quando outros ainda maiores são cometidos.
No desenrolar do romance
podemos evidenciar que Dorian não consegue determinar a sua própria identidade,
está constantemente debaixo de outras influências: Basil, a pintura, Lord
Henry, Sibyl Vane, o livro amarelo e, como resultado, ele não consegue formar
uma identidade, integrada, madura.
Dorian vive uma vida de
decadência, entregando-se aos prazeres sensuais, bons e ruins. O retrato
representa o registro de transgressões e envelhecimento, enquanto sua própria
aparência permanece jovem e bela. A partir de então, Dorian passou a viver tudo
que lhe era ou não permitido. Passou a ter uma conduta fria e interesseira com
todos à sua volta. Induziu pessoas a atos vulgares e criminosos, sempre impune.
Assassinou seu amigo Basil, à facadas, quando este descobre o que está
acontecendo. Leva outro amigo, um químico, ao suicídio após induzí-lo a
desfazer-se do cadáver de Basil.
Dorian tenta exilar sua
culpa, escondendo-se na superfície da tela pintada, mas nao consegue libertar
sua mente da consciência. Assim, a pintura, influenciada pelo comportamento de
Dorian, registra sua crueldade e, apenas o quadro se altera, transformando-se
numa figura monstruosa, donde das mãos da imagem gotejava sangue.
Passados 25 anos, o irmão de
Sibyl Vane retorna da Austrália, para onde havia partido em busca de emprego.
James Vane busca o sedutor da irmã para matá-lo, porém, morre em um acidente
numa caça da qual Dorian participava.
Dorian já contava com mais
de 40 anos, quando pensou em curar sua alma. Pensou em levar uma vida pura, sem
magoar quem quer que fosse. Ele se deu conta de que sua soberba o levou a esta
vida de pecados. Amaldiçoou sua beleza e mocidade e pensou que sem elas sua
vida seria pura. Porém, o que mais lhe doía era a morte, em vida, da sua alma.
Mais tarde, Dorian, que após
ter resistido ao impulso de seduzir outra mulher, informou a Lord Henry que
tinha decidido reformar sua vida. Naquela noite, uma vez mais ele fica chocado
ao ver o retrato com um olhar de cinismo e hipocrisia moral.
Apesar de suas boas ações, o
quadro não se alterava para melhor como supunha, continuava a gotejar
sangue...ainda mais vivo e mais horrendo. Neste momento, Dorian percebe
claramente a verdade: por vaidade, ele tentava não magoar mais ninguém, e a
hipocrisia pusera-lhe no rosto a máscara da bondade. A única prova de seu mau
caráter, de sua consciência, era o quadro. Então, resolveu destruí-lo.
Pega a faca usada para matar
anos atrás o autor da obra, Basil, e trespassa o retrato. Ouviu-se um grito. Os
criados acudiram. E, quando conseguiram adentrar ao quarto, viram na parede o
magnífico retrato, e, no chão, jazia o corpo de Dorian, com a faca cravada no
peito, que só pôde ser identificado pelos anéis em seus dedos.
Na parede, um angelical
rapaz de 18 anos, dono de uma beleza juvenil indescritível, espreita de sua moldura
com um inocente sorriso, e no chão uma figura velha, de aparência maquiavélica,
enrugada, assim como o que antes se via no quadro.
Apesar de não tratar
especificamente da estética, Aristóteles teria uma visão muito pontual sobre a
obra. O belo aqui surge através do efeito catártico, a função da arte como
educadora do caráter. Como todo romance, a obra é altamente descritiva, e
procura, em muitos aspectos, copiar a realidade.
Segundo o filósofo, a
tragédia tem em si o efeito catártico mais belo. Ela é capaz de atingir a todos
que com ela tem contato, seja gerando o efeito da dó, ou seja o do medo.
Ao colocar a figura do jovem
Dorian Gray querendo dar tudo por sua beleza, Wilde critica a sociedade
hedonista e fútil na qual estava inserido, e gera uma obra de arte capaz de
passar a mensagem do certo e do errado. Apesar de ser um romance, a obra tem
seu aspecto trágico e dramático, levando ao que Aristóteles buscava.
O bem e o mal o tempo todo
são comparados ao bonito e ao feio, ao passo que o retrato de aparência
desprezível apresentava uma figura de caráter duvidoso, enquanto o rosto
eternamente jovem de Dorian levava a impressão de uma pessoa pura e bondosa.
A obra deixa claro seu
objetivo, o de crítica social, de uma forma a atingir as pessoas, seja pelas
descrições terríveis da alteração do retrato, seja pelo caráter de Dorian cada
vez mais destruído, ou pelo conjunto da obra que é surpreendentemente comovente
e faz qualquer um pensar duas vezes entre a beleza e seu caráter.
Conflito - O momento em que Dorian esconde o retrato no quartinho feio, escuro e trancado.
Climax - O momento em que Basil confirma que as alterações do quadro são reais, e que Dorian não estava alucinando, ou até o momento em que Dorian toma consciência e tenta mudar.
Desfecho - O momento quando ele esfaqueia seu retrato, que acaba levando a sua própria morte.
Enredo - Aristóteles (Resumo da obra)
O livro vai contar a história de Dorian Gray com enfâse na consequência do acontecimento no atelie de Basil Hallward, na Inglaterra. Ele pintou um retrato magnífico de Dorian Gray em tamanho natural, quando finalizou-o, Dorian, um jovem com beleza grandiosa, ingênuo e causador da inspiração na arte de Basil, conheceu Lord Henry Wotton, um aristrocata britânico, cheio de teorias, muito irônico e capaz de causar grande influência nos outros. Dorian se supreende com a teoria da juventude dita por Lord Henry e fica apaixonado por seu retrato quando Basil o termina e logo diz:
"Como é triste! Eu vou ficar velho horrendo e medonho. Ele jamais envelhecerá além deste dia de junho... Se pudesse ser diferente! Por isso - por isso - eu daria tudo! Sim, não há nada em todo o mundo que eu não daria! Daria a minha alma por isso"
No momento, fora apenas um desabafo, mal ele sabia que seu desejo tornaria realidade. Ao desenrolar da história, ele se torna cada vez mais intímo de Lord Henry e começa a perder aos poucos sua magia encantora e sua ingenuidade. Ele se apaixona por Sibyl Vane, uma jovem de 17 anos que trabalha como atriz em uma casa de segunda linha de um judeu.
"... Por que eu não deveria amá-la? Harry, eu a amo. Ela é tudo na vida para mim. Noite após noite eu assito à sua apresentação. Em uma noite ela é Rosalinda, e na noite seguinte Imogênia. Eu a vi morrer na escuridão de um túmulo italiano, sugando o veneno dos lábios do amante. Eu a vi vagar pela floresta de Arden, disfarçada como um belo menino de meias longas, colete de mangas e um gorro gracioso. Ela foi louca e compareceu diante de um rei culpado, e lhe deu arruda e o fez experimentar ervas amargas. Ela foi inocente, e as mãos negras de ciúme esmagaram sua garganta como caniço. Eu a vi com todas as idades e em todos os trajes"
No dia em que Basil e Lord Henry foram vê-la representar, logo depois de o Princípe Encantado, como ela o chamava, e Sibyl decidiram se casar, ela atua de uma forma horrível, fora vaiada e no final, mal tinha espectadores na plateia. Dorian quando foi aos bastidores, se enfurece e diz não que não a ama mais e que nunca mais quer encontrá-la. Quando ele chega em casa, olha para seu retrato e percebe que seu sorriso mudou, estava com ar de maldade nele e percebeu que talvez aquilo que ele disse no atêlie estava se tornando realidade. No dia seguinte, prometera se desculpar com Sibyl e continuar com o casamento, mas ele se depara com uma notícia triste dada por Lord Henry: Sibyl estava morta e mais do que isso, com certeza era um suícidio.
A partir desse dia, Dorian nunca mais fora o mesmo, começou a ser frio e aderir muito mais as teorias de seu melhor amigo. Passou a cometer as maiores das atrocidades e sempre saia impune, mas a classe nobre britânica reagiu excluindo-o e ele estava com uma reputação aruinada a cada dia que passava, tinha fama de aruinar qualquer pessoa que tivesse contato com ele, era corajoso quem decidia se tornar amigo desse. Seu retrato envelhecia com o tempo e mais do que isso, mostrava sua alma, cada atrocidade que ele cometia era refletido nele, Dorian costumava olhar para ele e cassoá-lo, pois sua beleza permanecia intocada.
Basil encontra com ele no dia em que iria para Paris ficar por 6 meses para perguntar a ele se todas as coisas horríveis que diziam sobre ele eram verdade e Dorian decide mostrar o seu retrato para o pintor, o qual quando o vê fica perplexo. Dorian se vê com um ódio insano do amigo e decide matá-lo no quartinho onde seu retrato permanecia desde que notará o que ele se tornara. Depois disso, faz com que um antigo amigo químico Lord Allan Campbell, por meio da chantagem, faça o corpo desaparecer, e depois de um tempo, ele comete suicídio.
Dorian durante uma de suas fugidas para lugares estranhos se depara com o irmão de Sibyl Vane, James Vane, que jurara matá-lo se ele causasse algum mal à sua irmã. Dorian fica com muito medo depois disso, pois só conseguira sair impune por sua juventude intacta, já que ele tinha 40 anos com aparência de 20 anos. Ao passar do tempo, ele quer se tornar puro novamente, não deseja mais a beleza e a juventude, vê que isso o fez tornar como era, um homem cruel. Depois de descobrir que James Vane foi assassinado no dia em que praticavam caçada, ele ficou aliviado, decidiu ser bom, não se aproveitou de uma camponesa, o que ele classificou como seu primeiro ato bondoso. Mas quando foi olhar o quadro, ele descobriu que fora por pura vaidade, pois lá estava espelhado no retrato e decide acabar de uma vez com tudo aquilo e pega a mesma faca que matou o Basil e ataca o quadro. Após soltar um grito de horror e seus criados irem para a sala descobriram o que tinha acontecido.
"Quando entraram, encontraram pendurado na parede um retrato esplêncido do patrão, como viram pela última vez, em toda a maravilha de sua extraordinária juventude e beleza. No chão jazia um homem morto. Em traje de gala, com uma faca no coração. Estava definhado, enrugado e com rosto repugnante. Somente depois de examirem os anéis reconheceram quem era"
Do ponto de vista aritotélico, o retrato fez com que Dorian se deparasse com o efeito catarse, era ele representado no retrato, se reconhecia nele e em todas as suas feições de maldade, sangue na mão, ele sabia que o que tinha feito, ele se assustava, mas se sentia bem, por saber que aquilo tudo acontecia e refletia no quadro e não com ele. No começo, ele não via a obra e depois tentava se tornar alguém melhor, pelo ao contrário, ele zombava dele. Mas no final, o rumo disso tornou-se diferente, ele se deparou com a ideia de confessar tudo e se tornar alguém melhor, mas não fez isso, porque sabia que não tinha provas contra ele, pois ele anteriormente se desfez delas. Então, ao decidir destroir o quadro, o que signficava punir-se, se matando, seria como nas peças teatrais que Aristóteles descrevia e analisou, ele acabou como os vilões, com punição. E os leitores vão ler isso, e se estes se identificarem com Dorian deveriam sofrer o efeito catarse e ao terminar de lê-lo, procurar ser um cidadão melhor.
Contexto Histórico - Rousseau
Contexto Histórico - Rousseau
O livro possui muitos dos aspectos que podem ser correlacionados com algumas das ideias do grande pensados e filósofo francês Rousseau, principalmente com relação ao contexto histórico, socialmente falando. O contexto em que a obra foi escrita nos remete a uma Inglaterra vitoriana que se vê impermeada pela ascensão da classe burguesa, que por sua vez acaba substituindo a aristocracia decadente. Em meio a isso, percebemos as classes mais baixas ainda bem marginalizadas e sem nenhum acesso aos vastos avanços da época, sendo eles até em questões tecnológicas. Partindo dessas ideias, o livro se relaciona bem com Rousseau já que o Dorian, que era extremamente bondoso e puro no começo da história, fora corrompido sutil e inconscientemente pelas teorias de Lord Henry, representante da aristocracia britânica. É preciso que deixemos claros três pontos do livro que evidenciam de forma gritante as relações estabelecidas entre a obra e o filósofo. Sendo eles:
a) A ideia de que Lord Henry corrompeu os ideais de Dorian, deixando bem explícito a ideia mais famosa de Rousseau, que se refere ao "Bom Selvagem";
b) O ponto de que o protagonista era bom e puro ao início da história, que seria explicado pela teoria em que o filósofo diz que o homem é bom por natureza, e que se ele for mal será por alguma interrupção da sociedade, que o corrompe em aspectos morais e éticos.
c) A obra de arte (quadro) descrita no livro, reflete uma sociedade inglesa que é totalmente complacente com hipocrisias e corrupções da época.
Ao desenrolar de toda a história, Dorian foi extremamente influenciado, por exemplo pela Belle Époque. O protagonista acabou sendo impermeado por muitas novas culturas e tecnologias, num momento em que havia sido implantada a paz para a Europa, bem como para a Inglaterra. Oscar Wilde, o autor da obra, foi brilhantemente inteligente quando resolveu colocar em Dorian todos os ideais que viam se modificando pela Inglaterra, evidenciando a maldade, a heresia, na busca de um prazer hedonista. Dorian mostra uma ultrapassada aristocracia inglesa, visto que ele tem dinheiro, é bonito e vive aproveitando o auge de sua vida, que para ele estava muito mais valorizado enquanto na juventude... Ao vender sua alma, na tentativa de eternizar esse auge, isto é, sua juventude, ele se encontra perfeitamente com aristocracia, que tentava desesperadamente fazer isso.
Apesar de decadente, a aristocracia ainda dominava na política e detinha o poderio de grande parte das propriedades inglesas.
A obra ainda retrata uma forte influência da cultura do final do século XIX, sobretudo nas descrições da opulência da casa de Dorian e nos livros que ele lê.
Kant - Narrador
“Um retrato
pintado com a alma é um retrato não do modelo, mas do artista”. Que não nos
limitemos à arte da pintura para falar de almas. Afinal, assim como um retrato,
um livro escrito com a alma é um livro não para o leitor, mas para o escritor.
Bastou somente um romance para que Oscar Wilde expandisse sua carreira de
dramaturgo para romancista, e esse romance foi “O Retrato de Dorian Gray”
(1890), que conta a historia do narcisismo, da beleza e da corrupção da alma do
jovem Dorian Gray. Esta obra tornou-se um símbolo da juventude intelectual da
época, além de ter despertado grande polêmica em relação ao seu conteúdo
homoerótico (homossexual). Os acontecimentos se desenrolam de forma linear
e em ordem cronológica, que se inicia com o encontro entre Basil, Henry e
Dorian, no auge dos seus 20 anos.
O
narrador em “O Retrato de Dorian Gray” é omnisciente, ou seja, um narrador que
tudo sabe e tudo vê. É uma espécie de autor implícito, funciona como um
encenador. Ele está fora, mas é como se soubesse de tudo, conta a história dos
outros. O narrador é ausente da história narrada. Como não tem participação na
história como um personagem, é também nomeado um narrador heterodiegético.
(forma mais comum na literatura).
Wilde
criou, com a sua obra, uma percepção que defendia a beleza, o belo como
contraposição aos horrores da sociedade industrial. Como se fosse possível
enxergar todos aqueles avanços, sociais e culturais, como algo bom, algo do que
devemos tirar proveito. Beber até não poder mais, transar, se apaixonar, ou
seja: não odiar a sociedade, mas sim ir a fundo nesses prazeres, nesses “maus
de cidade grande” ocultos, tão corruptíveis. E quem são aqueles que podem fazer
isso, para Wilde? Os belos e jovens, assim como Dorian Gray. “Aqueles que
encontram significados feios em coisas belas são corruptos sem serem
encantadores.” Oscar Wilde transformou os horrores dos avanços da revolução
industrial em algo belo, sedutor. Podemos relacionar essa filosofia do belo de
Wilde com a concepção de beleza de Immanuel Kant. Kant vai dizer que a arte, a
fabricação de obras de arte, é um mecanismo para se alcançar algo, como podemos
observar quando Basil pinta o retrato de Dorian, com o objetivo de gerar nas
pessoas uma experiência estética, outro conceito de Kant. A experiência
estética é uma vivência emocional que resulta da contemplação de determinados
objetos, como o retrato de Dorian, provocando uma satisfação no observador). Belo,
para Kant, é aquilo que agrada universalmente, sem conceito. Significa que o belo é algo
subjetivo, universal, sem conceito definido, mas aparece para cada um de nós
individualmente como um conceito único.
Kant - Narrador
Tempo - Hegel (+ Contexto Histórico)
Kant - Narrador
No prefácio do
livro “O retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde faz uma breve análise sobre suas
ideias pessoais referentes à beleza, ao processo das obras de arte e como elas
se inserem nesse pensamento. As opiniões do autor se contradizem com as do
filósofo Immanuel Kant. Para Kant, o belo é um sentimento de prazer subjetivo
que o indivíduo pode ter ao analisar uma obra de arte, baseando-se em seus
próprios princípios éticos (morais). Assim, não se pode classificar uma obra
como bela, pois cada um tem sua opinião quanto a isso. É trabalho dos críticos
analisar a obra seguindo o conceito de “bom”, ou seja, se a obra atingiu sua
finalidade seguindo os devidos procedimentos, ela é considerada boa. Porém, o
belo vai além dessa relação lógica entre processo e utilidade. É um sentimento
universal por ser sempre o mesmo resultado entre os juízos de valor (moral e
estético), ambos subjetivos, embora cada um tenha suas próprias percepções.
Assim, algumas afirmações de Oscar Wilde no prefácio contradizem esse pensamento.
Wilde diz que “Aqueles que encontram significados feios em coisas belas são
corruptos sem serem encantadores. Isso é um defeito”. Essa frase contradiz
Kant, pois se a ideia de belo é subjetiva, não se pode classificar como defeito
o fato de não concordar com a noção de belo de outra pessoa. Cada um tem suas
próprias percepções. Outra passagem cuja contradição se dá pelo mesmo motivo é
“Não existe livro moral ou imoral. Livros são bem escritos ou mal escritos.
Isso é tudo”. Aqui, considera-se apenas a relação entre procedimento e
utilidade, porém não se pode analisar uma obra de arte sem levar em conta o
juízo de valor, seja esse moral ou estético. Apesar de tudo, uma frase de Wilde
que se assemelha com o pensamento kantiano é “A aversão do século XIX.........”,
pois nela o autor considera que a ética de cada um se altera com o tempo (uma
vez condicionada ao contexto histórico) e, assim, é um aspecto a ser levado em
conta ao classificar uma obra de arte.
Partindo de uma
narração em terceira pessoa com linguagem pouco rebuscada, o autor nos faz
questionar a real veracidade desse conceito estético absoluto durante a obra.
Este, através de personagens com diferentes modos de pensar, cria diálogos que
se contrapõe (como, por exemplo nas conversas e reflexões entre Dorian Gray e
Lord Henry, quando este aponta a arte como algo universal absoluto afirmando “A
arte não influência a ação. Ela anula o desejo de agir. É soberbamente estéril”
e aquele já a encara como algo subjetivo constatando “O homem é um
ser que possui miríades de vidas e de sensações, uma criatura complexa e
multiforme que levava dentro de si estranhas heranças de pensamento e paixão”)
e com essas discussões elabora textos provocativos que remetem o leitor se
impor perante o livro e cria uma dinâmica interessante que o mantém atento e
interessado. O autor é o responsável por resumir as ideias entre os
protagonistas da história (Dorian Gray, Lord Henry e Basil) e não apenas
oferecer a sua conclusão filosófica, mas diferentes e variados pontos de vistas
que se completam ou se opõe ao dos personagens o que nos remete uma avaliação
mais profunda e não somente estética, como moral. Nos faz parar e rever até
onde a beleza externa pode suprir a beleza interna, qual o valor da vida e se
há realmente um, o medo das pessoas serem fora do padrão da época, e outros
valores discutidos até hoje na sociedade.
Nessas
reflexões, inserimos o filósofo iluminista Emmanuel Kant como meio de comparar
suas ideias com as apontadas no texto. Este já constatava nos seus estudos a
respeito do juízo estético uma ligação forte com a ética, ou seja, a opinião de
um indivíduo está diretamente influenciada com os costumes da sociedade em que
está inserido. E esse assunto é bastante abordado no livro com as reuniões
entre os cidadãos da classe mais rica da Inglaterra (promovidos, muitas vezes,
por Lord Henry), a demasiada importância que Dorian Gray possui perante o modo
como os outros o enxergam, que chega sobrepor a importância que dá ao modo como
ele próprio se enxerga.
Esse aspecto do personagem principal é bastante discutido ao
longo do livro, pois nos diálogos do começo, Lord Henry faz várias afirmações
sobre o valor da beleza estética, levando Dorian Gray a se questionar se sua
beleza e juventude valem mais do que seus valores morais. Ao ver seu retrato
finalizado por Basil, Dorian fica impressionado com sua própria beleza e,
influenciado pelo discurso de Lord Henry, chega a dizer que daria qualquer
coisa para ficar eternamente belo como seu retrato ficaria. É nesse ponto que a
estética se sobrepõe à ética.
Não podemos
deixar de mencionar o caráter máximo da teoria kantiana (Critica da Faculdade
de Juízos), embora com influência objetiva (da ética e razão), o belo é
essencialmente subjetivo, pois o ser humano é dotado de sentimentos e gostos, e
dessa forma, nem mesmo o artista pode prever a reação do público perante sua
obra, pois o julgamento desta depende do artista que a criou e o observador que
a interpretou. Nesse quesito, a teoria de Kant se assemelha ao pensamento do
narrador que declara a respeito de Dorian Gray “Foi a sua beleza que o
arruinara, a sua beleza e a juventude pela qual suplicara. Sem essas duas
coisas, a sua vida teria sido imaculada. A sua beleza não fora senão um
disfarce”. A frase está relacionada a ideia do protagonista usar da aparência
para esconder os crimes e culpas do passado (como o assassinato de Basil e
suicídio de Sybil Vane).
Outro conceito chave do filósofo em questão trata do
conhecimento a priori. Para este, antes de julgar algo e dar valores morais,
éticos ou estéticos era necessário um conhecimento anterior a respeito daquele
assunto. E para se conhecer algo, é necessário saber o seu antônimo (por
exemplo, o antônimo de belo é feio), esse tópico também foi citado pelo
narrador na obra analisada como nessa parte “Dorian Gray fora envenenado por um
livro. Em certos momentos, considerava o mal como um simples meio de poder
realizar a sua concepção do belo”, criando uma conclusão paradoxal e menos subjetiva.
Outra concepção do belo no enredo traz a ideia desse
conceito como causa de prazer, sensações agradáveis e a vontade de que aquilo
nunca acabe, esta forma de pensar desencadeia a história. Por conta dessa
obsessão pelo exterior, Dorian Gray comete o erro de desejar ficar eternamente
belo e jovem a qualquer custo.
Fugindo um pouco dos valores de
juízo estético e avaliando o moral, percebe-se que o narrador nos faz
indagações através de fatos e teorias. Usando a Teoria do Imperativo Categórico
(faça o bem para si, para o próximo e para a humanidade) podemos descrever “O
retrato de Dorian Gray” como um abrangente universo em que estes três exemplos
de pessoas são citadas. Dorian Gray, por exemplo, apenas pensa no bem para si,
Basil já tem um caráter mais romântico e pensa em si e no próximo enquanto o
narrador é encarregado de pensar nos personagens e na humanidade, como as
pessoas ao redor serão afetadas com o decorrer da trama. É por essas críticas e
questões sociais discutidas na obra de Oscar Wilde que se justifica a sua
importância até os dias de hoje e seu valor cultural e moral.
Tempo - Hegel (+ Contexto Histórico)
Tempo - Hegel
A
obra “O Retrato de Dorian Gray”,
está completamente entrelaçada com o TEMPO. Não apenas por conta do contexto
histórico em que foi escrita, ou a época em que a história se passa, mas a
forma como esse tempo influência os personagens e seus pensamentos, ou seja, tempo psicológico da história, assim
como os acontecimentos dramáticos e sucessivos do “mundo” (realidade densa e
exagerada, para ser passível de análise moral e assim facilmente compreendida)
em que Dorian Gray e os outros personagens vivem, que caracterizam o tempo cronológico.
Relembrando:
O
tempo cronológico é o que contamos no relógio: meses / dias / horas / minutos / segundos. Na obra, a
narrativa em geral, momentos de conversas entre personagens ou apenas a
narração de uma cena, é o que podemos chamar de tempo cronológico.
O tempo psicológico é aquele vivido interiormente, dentro da nossa consciência, flashbacks. Ou seja, as memórias e quando são descritos os sentimentos dos personagens, assim como a análise deles sobre os acontecimentos. Um exemplo, é a tomada de consciência de Dorian sobre quem ele realmente era, e como queria mudar.
O tempo psicológico é aquele vivido interiormente, dentro da nossa consciência, flashbacks. Ou seja, as memórias e quando são descritos os sentimentos dos personagens, assim como a análise deles sobre os acontecimentos. Um exemplo, é a tomada de consciência de Dorian sobre quem ele realmente era, e como queria mudar.
O
tempo cronológico da obra, se relaciona diretamente com seu enredo linear, pois
obedece á sequência dos fatos. Com descrição espacial e ambiental, introduzidas
específicamente pelo autor, quando o meio influencia certos momentos, os quais
podem ser claramente observados na narrativa. Ela vai do início ao fim, sendo
mensurável, como a vida de Dorian.
Para
a evolução do romance, é necessário certo tempo, além o interno (o da
história), um externo, o tempo do discurso. O tempo cronológico do
escrever, necessário ao autor para desenvolver a trama e colocá-la no
papel; e o do ler, o tempo do leitor, o
que faz toda a diferença na organização. Um enredo sequênciado, assim como de
quem o fez e leu. Contudo, como se trata da análise da obra, esse tempo
fictício é o cronológico do romance.
O
tempo psicológico decorre numa ordem de depende do desejo do narrador ou dos
personagens, alterando a ordem natural dos fatos. Essa forma de tempo,
interliga os acontecimentos da pseudorealidade com o enredo não-linear.
Em
relação a Hegel, que acreditava que a arte valia mais que a natureza, para
chegar a verdade e atingir o espírito absoluto, tudo isso, influenciado pelo
MOMENTO HISTÓRICO, onde as concepções do que é a verdade são alteradas para se
adequar aos padrões, Dorian teria então
que se deixar levar pela beleza do quadro, ou nunca chegaria na verdade, na
tomada de consciência. E o momento em que vive, de uma sociedade egoísta e
narcisista, o que segundo Hegel, influencia as pessoas, as muda e
consequentemente esses sentimentos, descritos como tempo psicológico. Como
aconteceu com o personagem principal, que vendeu sua alma por uma aparência
jovem.
Espaço - Adorno
A obra “O retrato
de Dorian Gray”, escrita pelo autor irlandês Oscar Wilde em 1891, tem como
cenário a cidade de Londres, localizada na Inglaterra vitoriana, aristocrática
e hedonista do século XIX. Tal corrente filosófica denominada Hedonismo encontrava-se bem difundida
pela sociedade inglesa da época, na qual existia uma constante busca egoísta
por prazeres, como forma de adquirir certa felicidade momentânea.
O livro em
questão pode ser visto como uma crítica a essa sociedade que almejava e prezava
por aspectos superficiais como a estética e a vaidade, sendo cínica, hipócrita
e manipuladora, tendo como exemplo o personagem Lord Henry Wotton, o qual
influenciou Dorian Gray (protagonista), fazendo com que este se deixasse
corromper por esses vícios sociais.
A partir disso, é estabelecida uma metáfora em relação à decadência moral e
espiritual dessa sociedade, a qual, assim como Dorian, era bela, sorridente e
agradável por fora, mas podre, suja, feia e corrupta por dentro, o que é visto
no retrato de Gray. Tal obra de arte representava a alma do personagem e carregada todos os vícios
e pecados do mesmo.
O local físico no qual ocorrem as ações da história é denominado espaço. Com relação ao livro, pode-se
dizer que há a presença de muitos espaços, nos quais ocorrem vários
acontecimentos. A Inglaterra acaba por
ser definida como o espaço global,
dentro do qual se encontram os subespaços,
que seriam a casa de Dorian, o estúdio de Basil, as casas dos conhecidos, o
teatro e os pubs. Os locais são descritos com muitos detalhes. Tal detalhamento
ocorre para o entendimento da obra pelos leitores da época em que o livro foi
publicado. Os ambientes acabam por gerar conflitos
entre os personagens. Um exemplo disso é o fato do retrato do protagonista ter
sido guardado em um quarto que estava há muito tempo sem ser usado, porém,
nele, encontravam-se lembranças da infância de Dorian, sendo assim, o espaço
ideal para abrigar tal obra que representava a alma do mesmo.
Como já foi dito, na sociedade em questão há o Hedonismo, no qual o ser humano coloca o prazer como bem supremo
de sua vida. Tal conceito tem forte ligação com a teoria do filósofo alemão Theodor Adorno, na qual o mesmo dizia
que esse prazer é concedido aos indivíduos por meio da indústria cultural, uma indústria de lazer e entretenimento que investe em
produtos culturais, os quais proporcionam um prazer imediato nas massas; e que não se importa com a educação
estética, ou seja, não se importa em produzir manifestações artísticas de boa
qualidade aos indivíduos, está somente submetida aos interesses do capitalismo
contemporâneo, preocupando-se em manter a “roda” do sistema capitalista em
constante movimento. Tais mercadorias fornecidas pela indústria cultural são
chamadas de “mercadorias culturais” (filmes, músicas, shows, revistas...).
Os
prazeres fornecidos por esses produtos são os imediatos, isto é, aqueles que trazem certa felicidade momentânea para as pessoas, o que é buscado pelas mesmas
no Hedonismo.
De acordo com a perspectiva estética de Theodor Adorno, Dorian Gray é
transformado em um mero produto do Capitalismo, dadas sua beleza e mocidade
notáveis e extremamente apreciadas pela nobreza. Entretanto, a beleza do rapaz
era totalmente artificial, desvirtuosa, obedecia a um padrão social e era
movimentada por instâncias que beneficiavam Gray economicamente.
·
Prefácio
Primeiramente, o prefácio faz
parte da obra, como se fosse uma epigrama de Lorde Henry Wotton. A beleza é
vista como tudo, e aqueles que percebem intenções belas nas coisas belas são
considerados cultos, dignos de
esperança. Já os indivíduos que enxergam fins perversos nas coisas belas são corruptos, têm defeitos e carecem de
qualquer encanto. O artista, manifestando sua razão na produção de uma obra, é
o grande criador de coisas belas. Ele pode expressar o que desejar, e o
pensamento, a linguagem, a virtude e o vício são seus instrumentos necessários
para criação da arte.
A concepção de arte definida no
prefácio e ao longo do livro “destrói” algumas das mais comuns preocupações que
tinham os realistas e os românticos, contrariando as exigências pedagógicas e
utilitárias ligadas à ideia de arte. Oscar Wilde apresenta uma questão mais
instigante do que as inquietações do Realismo e do Romantismo: a diluição da antítese entre forma e
conteúdo.
A definição apresenta uma questão
central da estética kantiana, que é a de investigar o modo como pode ocorrer a
criação de coisas belas por meio de procedimentos técnicos que possuem esta
finalidade.
Na filosofia da arte, existe o
perigo de adotar uma perspectiva delimitada por certas intenções ou pressupostos,
e assim, ver a obra como uma ilustração ou documento filosófico. Ao se aproximar
da crítica, no entanto, a filosofia toma distância dessa “emboscada” e assume
um outro risco, trazido pela perspectiva crítica. Como é afirmado no prefácio, “A arte reflete o espectador, e não a vida.”
Ao final do prefácio, Wilde afirma
que tudo que é útil não deve ser
admirado pelo Homem. Enquanto isso, tudo que é inútil deve ser intensamente apreciado. Toda arte é completamente
inútil, pois é livre de qualquer
finalidade ou objetivo. Sendo assim, deve ser admirada com veemência (intensidade, vigor).
A seguir, análises de alguns dos
trechos do prefácio da obra:
“O crítico é quem pode
traduzir de outro modo ou para um novo meio sua impressão sobre coisas belas.”
A partir
dessa frase, Oscar Wilde afirma que somente com a habilidade crítica é que o ser humano torna-se capaz de decodificar
a arte de uma forma diferente, fora
do comum. O filósofo Theodor Adorno,
grande crítico da influência e manipulação do Capitalismo sobre os seres
humanos, afirmava que apenas a expressão
sensível e crítica poderia
tornar a realidade mais humana e, portanto, libertar a arte da opressão e submissão ao sistema capitalista.
Sendo assim, é possível estabelecer uma relação entre o pensamento de Oscar
Wilde e o de Theodor Adorno no que se diz respeito ao fenômeno crítico.
“A vida moral de um
homem é parte do tema do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso
perfeito de um meio imperfeito. O artista não deseja provar nada. Mesmo as
coisas verdadeiras podem ser provadas.”
Theodor
Adorno acreditava que a arte e os bens culturais estavam submetidos aos
interesses do capitalismo, e sendo
assim, não passavam de negócios,
produtos que atendiam ao mercado. Quando o autor do livro O Retrato de Dorian Gray determina que a moralidade da arte
consiste no uso perfeito de um meio
imperfeito, é possível relacionar esse “meio imperfeito” ao uso que o
sistema capitalista faz da arte, que é, basicamente, utilizá-la de tal forma
que seja perfeita para atingir as massas
e proporcionar prazeres aos
indivíduos.
“Vício e virtude são
para o artista materiais para uma arte.”
Se
recordarmos a teoria de Adorno, o filósofo acreditava que a sociedade era
influenciada intensamente pelos valores capitalistas. Estes eram difundidos por
meio dos produtos culturais, as
obras de arte, gerando um processo de colonização
dos valores capitalistas-consumistas sobre os compradores. Sendo assim,
quando Oscar afirma que o vício e a virtude são utilizados pelo artista para
fazer uma obra de arte, Theodor Adorno interpretaria da seguinte forma: o vício
e a virtude são proporcionados pelo Capitalismo; o artista, como qualquer
indivíduo comum, é subordinado, e, por sofrer estímulo do sistema, acaba por
criar o produto cultural dito anteriormente.
“Toda arte é ao mesmo
tempo superfície e símbolo. Aqueles que vão além da superfície assumem um risco
ao fazê-lo. Aqueles que leem o símbolo assumem um risco ao fazê-lo.”
Inserindo as
ideias de Adorno, todo indivíduo que ultrapassa
a superfície da arte, isto é, tenta encontrar outro significado à mesma, e que
lê o símbolo que ela possui, podendo
perceber o produto capitalista que ela é, corre o risco de ser punido pelo sistema capitalista.
“A única desculpa para
fazer alguma coisa inútil é podermos admirá-la intensamente. Toda arte é
completamente inútil.”
Nesse
trecho, Oscar Wilde afirma que a única desculpa para fazermos arte que, segundo
ele, é inútil, é admirá-la intensamente.
De acordo com as ideias do filósofo estudado, é possível perceber que essa
admiração intensa que a arte proporciona se dá pelo fato dela servir a indústria cultural, a qual já foi
citada.
MARA
ResponderExcluirNão entendi o nome do blog, oque que dizer?
ResponderExcluirPS: perguntando isso pq quero ser uma seguidora, mas primeiro que saber so que se trata o blog. :D
Gostei muito ! Gostaria também que tivessse reativado mais a aristocracia. Porém todos os textos estão de ótima compreensão e bem informativo. Obrigada!
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