Ética aristotélica - 2º A
Um fragmento do seu livro “Ética a
Nicômaco”:
"Devemos considerar agora o que é virtude. Visto
que na alma se encontram três espécies de coisas - paixões, faculdade e
disposições de caráter -, a virtude deve pertencer a uma destas.
Por paixões entendendo os apetites, a cólera, o medo,
a audácia, a inveja, a alegria, a amizade, o ódio, o desejo, a emulação, a
compaixão, e em geral os sentimentos que são acompanhados de prazer ou dor; por
faculdades, as coisas em virtude das quais se diz que somos capazes de sentir
tudo isso, ou seja, de nos irarmos, de magoar-nos ou compadecer-nos; por
disposições de caráter, as coisas em virtude das quais nossa posição com
referencia às paixões é boa ou má. Por exemplo, com referência à cólera, nossa posição
é má de a sentimos de modo violento ou demasiado fraco, e boa se a sentimos
moderadamente; e da mesma forma no que se relaciona com as outras paixões.
Ora, nem as virtudes nem os vícios são paixões, porque
ninguém nos chama bons ou maus devido às nossas paixões, e sim devido às nossas
virtudes ou vícios, e porque não somos louvados nem censurados por causa de
nossas paixões (o homem que sente medo ou coleta não é louvado, nem é censurado
o que simplesmente se encoleriza, mas sim o que se encoleriza de certo modo);
mas pelas nossas virtudes e vícios somos efetivamente louvados e censurados.
Por outro lado, sentimos cólera e medo sem nenhuma
escolha de nossa parte, mas as virtudes são modalidades de escolha, ou envolvem
escolha. Além disso, com respeito às paixões se diz que somos movidos, mas com
respeito às virtudes e aos vícios não se diz que somos movidos, e sim que temos
tal ou tal disposição.
Por estas mesmas razões, também não são faculdades,
porquanto ninguém nos chama bons ou maus, nem nos louva ou censura pela simples
capacidade de sentir as paixões. Acresce que possuímos as faculdades por
natureza, mas não nos tornamos bons ou maus por natureza. Já falamos disso
acima.
Por conseguinte, se as virtudes não são paixões nem
faculdades, só esta uma alternativa: a de que sejam disposições de
caráter"
Aristóteles desenvolveu uma reflexão ética racionalista e buscava ser
mais realista, tendo uma proximidade maior do indivíduo concreto. Ele dizia que
o fim último do ser humano era a felicidade, mas para ele não era o simples
prazer e seus motivos por tê-lo; seria encontrada na vida teórica, que promove
a razão. E aquele que se desenvolve no plano teórico, pode compreender a
felicidade e realizar sua essência de modo consciente. Mas como isso não é geral,
e sim, de poucos, aquela que não tem esse privilégio, aprenderia a agir de forma
correta, o que ele chamava de virtude, a partir dos hábitos.
Como a alma é composta por paixões, faculdades e disposições de caráter,
a virtude pertenceria a uma delas, e como Aristóteles concluiu pela disposição
de caráter. As paixões seriam para ele, todos os sentimentos acompanhados de
dor ou prazer; as faculdades seriam o fato de podermos sentir tudo isso; e por
fim, a disposição de caráter seria nossa posição em referência as paixões se
são boas ou más.
A paixão não vai ser definida como boa ou má, e não se é censurado ou
tampouco louvado por causa dela, e sim, por conta das nossas virtudes e vícios.
E, além disso, não se tem o direito de escolher os próprios sentimentos, apenas
sentimos, e a virtude é uma questão de escolha e as paixões nos movem, enquanto
as virtudes e os vícios dizem que temos possibilidades de disposição. E isso se
aplica em relação à faculdade também, porque não podemos ser julgados porque
temos capacidade de sentir as paixões, possuímo-la por natureza. E por isso, a
virtude é uma disposição de caráter.
Segundo Aristóteles, há dois tipos de virtudes, a intelectual e a moral.
As intelectuais já nascem conosco, essas são desenvolvidas com o tempo. Já as
virtudes morais são fruto de um interesse maior, a polis, e os padrões de
conduta devem ser ensinados e exercidos até os mesmos serem incorporados na
sociedade como um todo. Essas são resultados de um hábito que ao ser
consolidado passa a se refletir em nossas ações. Por mais que essas sejam
estabelecidas em sociedade, elas se dão pela nossa escolha voluntária, portanto
são interiores. Então todo ato e sua conseqüência deve ser de nosso
conhecimento ao realizarmos ele.
As virtudes estão localizadas entre o excesso e a falta, ou seja, é o
equilíbrio de ambos os vícios. E é por isso que se referem à ética proposta por
Aristóteles, como a ética do meio-termo. E quando se aprende uma virtude, é
preservada. E para ele, a ética está vinculada a vida política, já que se trata
do bem-estar do indivíduo e voltaria ao bem comum.
Atualmente a ética aristotélica é à base da estrutura moral. Porém esta
não vem mais do indivíduo, segundo Aristóteles, e sim da sociedade, ou seja, é
preciso considerar o julgamento exterior que virá após o resultado do ato. A
sociedade determina, então, o comportamento ideal que um indivíduo deve ter.
Passando da interioridade da escolha, o indivíduo, para o exterior, a poli.
O ser humano tem livre arbítrio, portanto sua ação será virtuosa
dependendo do cuidado ao escolher o modo de agir. Ou seja, é necessário agir
com prudência, pensar antes de agir. Estando sempre de acordo com o
comportamento ideal da sociedade.
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