Texto Descritivo da Máquina do Mundo
Após o episódio da Ilha dos Amores, Tétis guia
Vasco da Gama por um monte, e quando chegam ao cume viram um campo sem vegetação com jóias
espalhadas pelo chão, que mostravam que estavam pisando em solo divino. No meio
do lugar, viam um globo flutuando, que era claríssimo e no seu centro a luz
penetrava e ficava evidente seu centro e sua superfície.
Não
é possível identificar o material de que é feito, mas se vê que é composto de
partes feitas por Deus, e um centro que poderia ser visto por qualquer um, em
qualquer ângulo, que nunca se movimenta, e tem em toda sua volta uma mesma
imagem, que começa e acaba na arte divina. Esse centro seria a Terra, o centro
de todo o universo e que regia todos os demais planetas.
Gama
fica um tempo observando o Globo, espantado com tanta beleza. Então Tétis diz:
veja a Máquina do Mundo, maravilhosa, que foi fabricada por Deus, não tem
começo nem fim. É cercado por uma órbita, cuja superfície é Deus, mas ninguém
entende o que é Deus, porque a sabedoria humana não se estende a tanto.
Esta primeira órbita cerca as
outras menores e está irradiando uma luz tão clara que cega a vista e as mentes
mal intencionadas. É chamado de paraíso cristão, no qual ficam as almas puras,
que atingiram o bem que só Deus entende e que não há igual no mundo dos
humanos. (O paraíso)
Debaixo
do círculo que as puras almas divinas aproveitam, e que não anda, corre outro
círculo tão rápido que não se enxerga o movimento. Com este rápido e grande
movimento, vão todos os que estão no centro, e o Sol anda fazendo dia e noite.
(Cristalino – órbita que determina dos dias e as noites)
Debaixo desta órbita, outra lenta, tão lenta
que enquanto a luz dá 200 voltas, essa órbita dá uma só. (Firmamento – Bíblia,
que não se altera, estará sempre a mesma)
Veja
este outro de baixo, que pintado com corpos radiantes, anda em um curso
ordenado, e nos seus eixos correm cintilantes, como o zodíaco que traz dois
animais figurados, limitados aos aposentos de Febo. As estrelas do céu, por
outras partes, fazem a Ursa Maior e a Ursa Menos, Andrômeda e outras tantas
constelações.
Debaixo
do firmamento fica o céu de Saturno, deus antigo, depois de Júpiter, Marte,
Vênus, Mercúrio e Diana, a Lua.
Em
todas estas órbitas diferentes será visto, o movimento rápido ou lento, ora
estão fugindo da Terra ora estão perto, mas sempre tem a Terra como centro.
Já a
Terra se encontra imóvel o tempo todo e revestida por uma camada de ar, e logo
depois por uma órbita de fogo.
Essas
concepções fazem parte do sistema astronômico de Ptolomeu, que era o aceito
pela Igreja na época.
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