Iluminismo
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A razão em
busca de liberdade - Beatriz
Entre os séculos XVII e XVIII, a grande
expansão do Capitalismo foi acompanhada pela crescente participação da
burguesia na sociedade, junto de sua conscientização como classe social. Ao
mesmo tempo, o racionalismo reinava
na Europa, difundindo a confiança na razão,
a qual seria o principal instrumento
humano para enfrentar desafios da vida e
equacionar/“matematizar” os problemas que rodeavam os seres humanos.
O
desenvolvimento da Revolução Industrial
e o êxito da ciência em áreas como a química, a física e a matemática serviam
de inspiração a filósofos de todos os lugares. Assim, surgiu um novo mito: a ideia de progresso. Difundiu-se a crença de que a razão, a ciência e a
tecnologia eram capazes de impulsionar a história numa caminhada contínua em busca da verdade e do progresso
humano.
Em
paralelo, desenvolveu-se um pensamento que resultou no movimento cultural do
século XVIII chamado Iluminismo,
Ilustração ou Filosofia das Luzes.
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Burguesia e
Iluminismo – Ana Paula
Segundo
o filósofo e sociólogo Lucien Goldmann, os valores
fundamentais defendidos pelo Iluminismo (igualdade, tolerância, liberdade e
propriedade privada) podiam estar relacionados
com o comércio, portanto também seriam valores
burgueses. Assim, os iluministas
também teriam sido ideólogos da
burguesia. Alguns desses valores são:
1.
Igualdade jurídica de todos perante a
lei: na compra e na
venda, as desigualdades sociais não são importantes. O que de fato interessa é
a igualdade jurídica dos participantes do ato comercial. Todos são cidadãos,
todos têm direitos básicos, embora tenham situações socioeconômicas distintas.
2.
Defesa da tolerância religiosa ou
filosófica: as
diferentes crenças religiosas ou filosóficas não intervêm no ato comercial.
Independentemente da sua religião ou crença filosófica, cada indivíduo tem sua
capacidade econômica. Do ponto de vista econômico, seria irracional e absurdo
se a compra ou a venda ocorressem somente entre pessoas com a mesma crença
religiosa ou filosófica.
3.
Liberdade pessoal e social e ausência
da escravidão humana: o comércio só ocorre em sociedades nas quais os indivíduos estejam livres
para realizar negócios. Sem indivíduos livres, recebendo salários, não há
mercado comercial.
4.
Direito à propriedade privada: o ato comercial só ocorre entre
pessoas que detém propriedade de bens ou de capitais, permitindo ao indivíduo
usar e dispor livremente dos seus pertences.
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Filosofia
nas ruas e salões - Thaís
O movimento iluminista não foi coeso
e uniforme, pois muitos pensadores não eram ideólogos da burguesia, mas sim
defensores da aristocracia. Apesar disso, uma característica em comum entre
todos eles era a busca pelo
convencimento racional das pessoas.
O
comportamento de muitos filósofos foi alterado no século XVIII. Os iluministas
circulavam pelas ruas e salões, expondo
e praticando a razão. Eram filósofos
propagandistas, como escreveu o pensador alemão Ernst Cassirer: “a razão
não era o cofre da alma onde se guardavam verdades eternas, mas era a força
espiritual, a energia, capaz de nos conduzir ao caminho da verdade”.
O
Iluminismo defendia que o ser humano era capaz de conhecer a realidade e interferir nela a
partir do uso da razão, para organizá-la racionalmente, a fim de melhorar a
vida das pessoas. O desenvolvimento da capacidade intelectual, isto é, o processo de ilustração, propunha
libertar o homem de medos irracionais, superstições e crenças, questionando os
costumes vulgares, de modo a construir uma nova ordem racional à sociedade.
Ana Paula -
A grande contribuição trazida pelos
filósofos iluministas foi a generalização e aplicação de doutrinas críticas e
analíticas às muitas áreas do conhecimento humano e também a retomada das
ideias do grande racionalismo do século XVII.
Algumas
ideias da mentalidade iluminista são:
1.
Estudo da natureza e ser humano: os intelectuais preocupavam-se com o
mundo concreto, e dentro dele, estudariam o ser humano;
2.
História: o conjunto dos conhecimentos
históricos obtidos no passado pode servir ao bem-estar social;
3.
Progresso: as novas descobertas resultaram na
crença de um novo ideal, a ideia de progresso.
Montesquieu - Paula
Montesquieu, mais
conhecido como barão de Montesquieu,
foi um jurista (pessoa que estuda ciências jurídicas, com grande conhecimento
de assuntos de direito). Escreveu a obra O espírito das leis, na qual criou a
teoria da separação dos poderes do
Estado em três: o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder Executivo,
a fim de evitar os abusos dos governantes e proteger as liberdades dos
indivíduos. Defendia uma monarquia
constitucional e inclinava-se para um liberalismo
aristocrático. Não defendia uma república burguesa. Afirmava que “a lei é uma relação necessária que decorre
da natureza das coisas”. Acreditava que se uma só pessoa controlasse os
três poderes, haveria grandes riscos de
tirania.
Voltaire - Paula
François-Marie
Arouet foi poeta, dramaturgo, filósofo e um dos mais importantes pensadores iluministas.
Utilizava o pseudônimo de Voltaire.
Destacou-se pelas críticas que fez ao
clero como também à intolerância
religiosa. Porém, concordava com a necessidade da crença em Deus, dizendo que,
se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo.
Defendia uma monarquia
que respeitasse a liberdade dos
indivíduos e que fosse governada por um soberano esclarecido. Além disso, era a
favor da liberdade de pensamento, e
assim, afirmava que “Posso não concordar
com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte seu direito
de dizê-las”.
Diderot e D’Alembert -
Thaís
Os
pensadores franceses Diderot e
D’Alembert organizaram uma enciclopédia
que resumia os principais conhecimentos científicos e filosóficos da época.
A obra teve colaboração de muitos outros autores, como por exemplo,
Montesquieu, Voltaire e Rousseau.
A
Enciclopédia influenciou o pensamento político burguês e defendia o racionalismo, um Estado
laico e a confiança no avanço humano
a partir de realizações científicas e tecnológicas.
Diderot é a principal figura da Enciclopédia. Ele realizou a ruptura com a teologia tradicional, afirmando-se como ateu e materialista.
Jean-Jacques Rousseau -
Beatriz
O filósofo e escritor suíço Jean-Jacques Rousseau representou a transição do Iluminismo para o Romantismo.
Embora defendesse a liberdade e combatesse os vícios sociais, criticava os excessos racionalistas, tornando-se
precursor do Romantismo (movimento
artístico, político e filosófico que tinha uma visão do mundo contrária ao
racionalismo e ao Iluminismo).
Em uma de suas obras, denominada Do contrato social, defende a tese de que o governante deve conduzir o
estado segundo a vontade do seu povo e ter em mente o bem de todos. Somente
desse jeito o Estado teria a possibilidade de oferecer aos cidadãos um regime
de igualdade jurídica.
Na obra Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, critica a avareza, a corrupção e os vícios sociais,
como também presta homenagem aos valores
da vida natural.
O filósofo suíço elogiou a liberdade do selvagem, em seu estado natural, opondo-se ao artificialismo e à falsidade do indivíduo
civilizado. A partir destas ideias, criou o mito do bom selvagem (segundo Rousseau, neste mito, o ser humano,
em seu estado natural, vivia feliz, livre, em harmonia com seu habitat natural,
isolado e guiado pelos bons sentimentos).
Rousseau inspirou os valores da Revolução Francesa e defendeu a pequena burguesia (formada por proprietários
de pequenos negócios e por profissionais liberais autônomos. Seria a classe
média da sociedade).
Adam Smith - Ana Paula
Adam
Smith foi um economista e filósofo escocês. Ele foi uma das principais figuras
da economia clássica e o principal
teórico do liberalismo econômico. Na
obra Ensaio sobre a riqueza das nações,
criticou o mercantilismo, que é
baseado na interferência excessiva do
Estado na economia.
O
filósofo defendia que a economia deveria ser autônoma, sendo comandada pelo jogo livre da oferta e da procura de
mercado. O próprio mercado se auto-organizaria e conseguiria cuidar das
necessidades sociais, desde o governo não intervisse nele. Smith também
defendia que o trabalho é a real
fonte de riqueza das nações, devendo ser guiado pela iniciativa livre de cada
um.
Suas
teses basearam-se na ideia
iluminista de que a racionalidade e a
ordem são superiores à vontade humana e ao caos, desde que os
indivíduos consigam agir com liberdade social, no caso, com liberdade econômica.